POV Kabir
Três anos.
Já se passaram três anos desde que enterramos Bennet, e ainda me lembro do som do choro dela naquele dia. Um choro contido, orgulhoso, mas que parecia sair de um lugar muito mais fundo que os pulmões. Era um som que atravessava a alma.
Kali não caiu aos pedaços, e talvez esse tenha sido o pior de tudo. Ela ficou de pé. Olhos fixos no vazio, como se resistisse por respeito, por dever, por Niyati. Mas nós que a amávamos sabíamos: por dentro, ela estava em cacos tão pequenos que nem ela sabia mais onde começava sua dor e onde terminava sua força.
Durante muito tempo, eu só observava.
Ela passava pela casa como um fantasma gentil, se preocupava com todos, oferecia chá, perguntava se dormimos bem, mas ela mesma nunca parecia descansar.
Às vezes, eu a via à noite, sentada no jardim, coberta por um xale, olhando para a pequena jabuticabeira que Niyati insistia em chamar de “árvore do papai”.
Ela não falava nada, só ficava ali, como se esperasse que o vento trouxesse a v