POV Kabir
Peguei a caneca e levei o café até a varanda. A manhã começava a pintar a cidade com um cinza suave.
Naquela hora em que tudo parece suspenso entre o que foi e o que ainda pode ser.
Tomei o primeiro gole. Fraco, como eu. Como a desculpa que tentei me dar ontem.
“Foi só por pena.”
Mas não foi... Pena não faz o coração acelerar. Pena não dá vontade de repetir.
Ouvi passos leves atrás de mim, mas não precisei me virar. O cheiro de Saniya chegou antes dela. Chá com canela e sabonete de lavanda. Um rastro de constância desde a adolescência.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos. Depois, disse:
— Fiz torradas para o café da manhã. — ela deu um riso contido antes de continuar: — Queimei duas na verdade, mas salvei uma. É sua, se quiser.
Sorri, mesmo sem querer. Ela tinha esse dom de se oferecer para ficar com as sobras com um tom de generosidade que fazia tudo parecer presente.
— Obrigado — respondi.
Ela se aproximou devagar e sentou na cadeira ao meu lado. Trouxe o próprio chá