Bati à porta do escritório do Rafael, com a carta de demissão entre os dedos.
Ele franziu o cenho ao me ver. — O que você está fazendo aqui? — Perguntou, seco.
Estendi o papel diante dele. — Sr. Soares, esta é a minha demissão.
Rafael ficou imóvel por um instante e, de repente, o rosto dele escureceu.
— Você está falando sério? Vai se demitir mesmo?
— Sim.
Ele soltou um riso irônico.
— E eu que achei que ontem você estivesse só pagando de indiferente. Então hoje está querendo bancar a rebelde comigo?
— Elisa Lima, sem mim… você vai para onde?
Anos atrás, por causa dele, rompi com minha família.
Acreditavam que Rafael não era alguém à minha altura — e, de fato, naquela época ele nem era o sucessor da máfia. Dentro do clã, era o último nome lembrado.
Mas eu me apaixonei pelo homem, não pelo título.
Por isso larguei tudo e vim viver na cidade dele.
E por isso ele achava que eu jamais teria coragem de ir embora.
Não podia deixá-lo saber dos meus planos.
Com a posse doentia que ele tem sobre mim… se descobrisse, me trancaria aqui para sempre.
— Só estou cansada. — Falei, num fio de voz. — Preciso de um tempo. Não estou discutindo com você.
A expressão dele ficou ainda mais carregada. Me encarou longamente, como se tentasse me decifrar.
Então, guardou a carta na gaveta.
— Tire férias. Não precisa se demitir.
Apenas assenti e me virei para sair.
Uma assinatura no papel já não mudava mais nada.
Mas ainda não havia chegado à porta quando uma voz aflita ecoou pelo escritório:
— Rafael, e agora? Meu colar sumiu!
Era a Isabela.
Segurava uma caixinha de joias, o rosto completamente pálido.
— Eu juro que deixei aqui! Como pode ter desaparecido? — Ela quase soluçava.
Rafael suavizou a voz para ela:
— Calma, Isa. A gente encontra.
Logo depois, ergueu o olhar e ordenou aos seguranças:
— Vistoria geral. Quero saber quem pegou o colar dela.
O escritório virou um caos. Comentários venenosos surgiram por todos os cantos:
— Quem teria coragem de roubar algo da Isabela?
— Aquele colar custa uma fortuna!
— Se eu pegar o ladrão, vai sair daqui carregado!
Eu parei na porta, hesitante. Sair naquele momento… parecia quase uma fuga.
Foi quando a voz dele me cortou o ar:
— Elisa Lima. Fica onde está.
Rafael fez sinal para bloquearem a saída. Todos foram forçados a voltar às mesas, enfileirados para inspeção.
Em pouco tempo, chegou minha vez.
Ao olhar para minha gaveta, ele viu o ursinho de pelúcia — o nosso primeiro presente — e um traço de desconforto cruzou o rosto dele.
Mesmo assim, fez um gesto impaciente:
— Esvaziem tudo.
Reviraram cada objeto meu, sem cuidado algum.
O ursinho acabou arremessado no chão, destruído…
Tal como os nossos cinco anos, reduzidos a pó.
Reviraram tudo. Nada.
Então Isabela lançou um gritinho:
— Achei!
Fingindo surpresa, tirou o colar de uma fresta entre os papéis.
— Como isso foi parar aqui?
Rafael voltou o olhar para mim — frio como gelo.
Sem aviso, a mão dele veio certeira no meu rosto.
O tapa ecoou pelo escritório.
— O que você tem a dizer, Elisa? — Vociferou. — Peça desculpas à Isa. Agora.
A pele queimava, os olhos ardiam.
Mas levantei o queixo, mesmo com as lágrimas ameaçando cair:
— Eu não peguei nada. Não tenho nada a explicar.
Respirei fundo.
— Se quer saber a verdade… olhe as câmeras.
E concluí, firme:
— E, para deixar claro, eu jamais cobiçaria o colar dela.