No dia seguinte, fui até a empresa do Rafael e entreguei minha carta de demissão.
— Meu Deus, Elisa, você enlouqueceu? — Minha colega me olhou completamente chocada. — Você está prestes a ser promovida a diretora! Se pedir demissão agora, vai jogar tudo a perder!
Sorri de leve, sem responder.
O cargo de diretora era, de fato, algo pelo qual eu havia me dedicado de corpo e alma.
Mas, e daí?
De qualquer forma, eu e Rafael não estaríamos mais juntos. Permanecer na empresa dele só me causaria repulsa.
— Vou me casar em breve. Talvez, vá trabalhar na empresa do meu marido. — Expliquei.
Minha colega ficou surpresa por um instante e, logo em seguida, sorriu.
— Entendo... então, parabéns!
Ela fez uma pausa e acrescentou:
— Mas, falando nisso, o Sr. Soares também vai se casar, sabia?
— Quem diria que ele ficaria noivo da Isabela Rocha?
— Eles combinam tanto, não é?
— Agora entendo por que o Sr. Soares sempre se manteve distante das mulheres. No fundo, o coração dele já tinha dona.
— Ouvi dizer que a Isabela e o Sr. Soares são amigos de infância.
As palavras dela continuavam ecoando perto do meu ouvido, mas eu simplesmente me virei e saí.
Ouvir que o homem com quem namorei por tantos anos estava prestes a se casar com outra mulher... era cruel demais.
Nesse momento, a porta do escritório se abriu de repente.
Rafael entrou acompanhado de Isabela. Assim que os funcionários os viram, levantaram-se imediatamente.
— Boa tarde a todos. — Disse Isabela, com um sorriso radiante no rosto.
Ela parecia cheia de vida, nem parecia uma pessoa que estava à beira da morte.
Rafael a envolveu pela cintura, com um sorriso cheio de ternura.
— Esta é a Isabela Rocha. A partir de agora, ela será a nova diretora técnica da empresa.
— Prazer em conhecê-la, diretora Rocha. — Todos cumprimentaram em coro.
Fiquei parada, imóvel.
O olhar de Rafael escureceu assim que me viu.
— Elisa Lima, não percebeu que a nova diretora chegou? — Sua voz soou fria. — Não vai cumprimentá-la?
Apertei os lábios, em silêncio.
Isabela, por sua vez, manteve o sorriso e estendeu a mão para mim.
— Você deve ser a Elisa Lima. Já ouvi muito o Rafael falar sobre você. Agora seremos colegas. Espero poder contar com você.
Olhei para a mão estendida dela, sentindo que aquele gesto era uma provocação disfarçada.
Por anos, eu trabalhei arduamente para chegar àquele função de diretora, mas ela simplesmente chegou na empresa e assumiu o cargo.
Parecia que o destino estava me dizendo, mais uma vez, que aos olhos de Rafael eu nunca fui a preferida.
Esboçando um sorriso contido, a Isabela se aproximou e sussurrou em meu ouvido::
— Elisa Lima, depois de tanto tempo, Rafael nunca reconheceu você publicamente. Ele não te ama. Se for esperta, vai embora logo.
Logo em seguida, ela recuou, mantendo o mesmo sorriso gentil de antes, como se nada tivesse acontecido.
— Elisa, seus brincos são lindos. — Disse, com o mesmo tom doce.
Para os outros, parecia apenas um comentário inocente, como se ela tivesse se inclinado apenas para observar meus brincos, e não para me humilhar.
Nesse instante, Rafael a puxou de volta para perto dele.
— Não há necessidade de tanta gentileza com uma simples funcionária. E esses brincos de camelô... o que é que têm de bonito?
Dizendo isso, passou o braço pela cintura de Isabela e saiu com ela.
Eu me sentia uma completa idiota enquanto continuava com a minha mão estendida.
Minha colega, Mariana Moreira, olhou para mim e não conseguiu conter o comentário:
— O Sr. Soares foi bem direto, não?
— Mesmo querendo agradar a noiva, não precisava ser tão cruel.
— Ele não tem medo de desmotivar os funcionários?
Baixei a cabeça, retirei lentamente a mão e apertei com força a carta de demissão que segurava.