O corredor do andar de cima era um campo minado. Cada passo de Gabriel era uma aposta. Ele se movia com a graça mortal de um felino, o corpo rente à parede, os pés descalços deslizando sobre o tapete persa para não fazer ruído. O som da conversa no andar de baixo era seu mapa e seu relógio. As vozes de Leônidas e Lara, indistintas mas presentes, diziam a ele que, por enquanto, os olhos da casa estavam voltados para outra direção.

Ele passou pela porta do quarto de Lara. Estava fechada, mas um par de tênis de lona, gastos e com respingos de tinta, estava do lado de fora. Um detalhe tão mundano, tão real. Por um instante, ele sentiu o impulso de tocar nos tênis, de sentir uma conexão física com qualquer coisa que pertencesse a ela. Reprimiu o desejo com uma fúria silenciosa. Aquela era a fraqueza que Kael procurava. Aquela era a fraqueza que o mataria.

Ele continuou, os olhos fixos em seu objetivo: a porta no final do corredor leste, o quarto de hóspedes que lhe daria a visão da frente