A cidade parecia menor do que eu lembrava.
Talvez porque, pela primeira vez, eu não a via do alto — das salas envidraçadas, dos restaurantes caros, dos compromissos que me mantinham em movimento.
Agora, eu caminhava pelas mesmas ruas com outro peso: o de quem não devia mais nada àquele lugar.
O prédio da Bezerra ainda cheirava a poder. O mesmo mármore frio, os mesmos seguranças na portaria.
Quando entrei, os olhares se voltaram para mim, alguns disfarçando surpresa, outros respeito.
Eu não era mais o herdeiro, mas ainda carregava o nome.
Subi direto.
A porta do escritório do meu pai estava entreaberta — e lá estava ele, como sempre: impecável, de terno, cercado por papéis, a caneta dourada entre os dedos.
Parecia que o tempo não passava por ele.
Ou talvez fosse só orgulho o que o mantinha de pé.
Ele ergueu os olhos quando me viu.
— Então é verdade — disse, frio. — Foi preciso mandar te seguir pra descobrir que se transformou em um fazendeiro.
— Me transformei em um homem,