Capítulo – Zola Riel
A rotina frenética do hospital sempre teve algo de anestésico. Nos sons monótonos dos monitores cardíacos, no eco dos passos apressados, nos plantões intermináveis, havia uma constância que me impedia de sentir demais — de lembrar demais. Ou, pelo menos, costumava ser assim. Mas desde que Nevan voltou, desde que nossos caminhos se cruzaram de novo naquela festa com cheiro de cloro e lembranças, o hospital já não era mais um santuário de distrações. Tornou-se uma arena silenciosa onde cada gesto, cada troca de olhares, carregava um peso que só nós sabíamos decifrar. Eu o via nos corredores, com aquele andar tranquilo e postura impecável, falando com os colegas, revisando prontuários, coordenando as alas com uma naturalidade irritante. Mas por mais profissional que parecesse, havia sempre um momento — às vezes breve demais — em que ele olhava em minha direção. Como se ainda soubesse exatamente onde eu estava, mesmo sem