O que acontece quando se foge de uma casamento arranjado? Essa é a história de Giulia, uma garota que ama a vida, ama os obstáculos que ela proporciona, porque desta forma, consegue provar para si mesmo que é capaz, mas que, em um determinado momento da sua vida, se pega completamente impotente por causa de uma decisão tomada pelo seu pai e apenas por ele. Ela acredita no amor, aquele que aparece genuinamente e não o que somos obrigados a aceitar. Seu pai, em busca de dinheiro, a promete em casamento para um antigo amigo, um que quer Giulia apenas como troféu, . Victorio eum homem de meia idade, que vê a beleza de Giulia como seu sonho dourado, um que por ele mesmo, seria i alcançável e não medirá esforços para tê-la ao seu lado. Porém, terá que lutar contra Enrico, herdeiro da máfia e que, na hora mais improvável, no dia mais improvável, encontra a mulher que o tiraria do fundo do poço e mostraria que ainda é possível viver o amor. Quebrado, mas não morto, ele fará de tudo para não perder, novamente, para a morte
Leer másO herdeiro
Meu nome é Enrico, sou o próximo Don da família Bianchi, tenho 27 anos e essa é a história da minha vida, de como eu virei capo e como foi tudo até aqui. Na verdade, minha história não foi muito diferente dos outros herdeiros da máfia, mas eu sempre quis que fosse. Assim eu não ia experimentar esse sofrimento que carrego dentro do peito. Como um doce dado para uma criança e arrancado logo em seguida. Só que junto com o doce, tinha meu coração arrancado dentro do peito e vivia ou sobrevivia quebrado. Dizem que o sofrimento transforma as pessoas, faz com que elas deixem de acreditar nas coisas do alto e só olhem para o próprio umbigo, que elas deixem de ter esperança, de sonhar. Eu nunca almejei herdar o trono do meu pai, mas como primogênito, não teve outro jeito. Só se sai da máfia morto, e eu preferia viver fingindo que estava tudo bem e sem exercer meu verdadeiro propósito, além de conviver com o vazio do luto, do que perder a vida. Sempre invejei o meu irmão Guilhermo, ele sim, podia fazer o que quisesse, sempre que quisesse, pois o peso da coroa não lhe vestia a cabeça, mesmo ele tendo nascido a apenas alguns minutos após a mim. Eu achava que isso tudo era história da idade da pedra, essa história de herança da máfia. Eu vivia de achismo, até o momento que a vida decidiu que já era hora de aprender e na base da porrada mesmo, depois de me dar o gostinho do amor. O meu coração estava quebrado, eu achava até que nem tinha mais um coração, só um pedaço de pedra no meio do peito que de alguma forma tinha estacionado ali apenas para bombear o sangue para os meus órgãos e não mais para sentir. Nem mesmo crescer no meio da guerra da máfia, nem mesmo crescer na casa com sala de tortura no sótão, banhada em morte e esquemas me fez enxergar o sofrimento real da vida. Patrizia, esse era o nome da minha prima que também foi o amor que a vida me presenteou e minha família honrou e aceitou. Tudo para continuar no poder, mas para nós era mais uma questão de sentimento mesmo. Patrizia, e ela era uma mistura de furacão com calmaria, determinação e carência, tinha a pele branca como a neve e com cabelo escuro como a noite. Era filha do irmão do meu pai, Giuseppe. O homem não tinha medo de nada, seu serviço era limpo e eficiente. Já a mãe dela eu não conheci, quando eles vieram para a Sicília ou voltaram, sua mãe não veio no pacote, só os dois mesmos. Uma família pequena, de pai e filha. Na máfia uma mulher não pode crescer sem uma influência feminina para lhe ensinar os bons modos e costumes a seguir. Por mais que ela fosse se casar comigo e eu estivesse pouco me lixando para tudo isso, a moglie de um capo precisa se portar como tal e impor respeito ao respirar. Então Linda, a minha mãe, a criava junto com meu pai, eu e meu tio em nossa casa. Me lembro da marca de terra em suas mãos, porque a menina adorava se sujar no parquinho da escola. Também me lembro de pedir meu lanche duplicado, todas as vezes que percebia que aquela menininha furacão tinha se esquecido de pegar o seu lanche em cima da mesa da cozinha e eu, mais que de depressa, oferecia o meu. Me lembro de, conforme os anos foram passando e nós chegamos no ensino fundamental, naquela mesma escola seleta, onde apenas a herança da máfia podia se instalar quando preferia não abrigar professor particular em suas casas, perceber que a Patrizia tinha tanta dificuldade em matemática quanto eu, e de me esforçar para aprender só para ter mais tempo com ela, depois que eu me gabei que sabia a matéria toda e podia ensinar a minha menina nas horas vagas. Me lembro do seu dengo quando me dizia que estava cansada, que só queria tirar uma sonequinha depois do almoço e depois, se acabar de assistir seus desenhos favoritos enquanto eu insistia para que ela ficasse comigo e só comigo, antes que eu saísse para o meu treinamento. Mas depois ela cuidava de cada machucado quando eu voltava do meu treinamento e ela já tinha terminado suas aulas de etiqueta. A Patrizia foi o que chamam de meu primeiro amor desde o primeiro dia em que eu a vi. No meu aniversário de 18 anos, eu descobri o que era coragem e foi por causa dela. Eu fiquei dias me preparando para aquela ocasião especial, uns dois eu acho, mas para a minha ansiedade, foi mais que uma vida inteira. Meu pai não tinha o costume de ficar fazendo festa, nem mesmo para impor seu poder, dizia que não gostaria que seus inimigos descobrissem a localização da nossa família, que nada era mais importante que a nossa segurança. Isso colocando os seus filhos e esposa sempre a frente e que nunca, por consciência, nos colocaria em risco, mas naquele ano foi diferente. Naquele dia, eu a vi chegando com um embrulho todo convencional a mão, uma sacola em papel cru, toda envergonhada e tentando se justificar que quem tinha embrulhado meu presente tinha sido a mulher da loja e que ela não conseguiu fazer nada de muito elaborado. Sua cara de indignação era tamanha, onde já se viu uma pessoa que é paga para trabalhar no ramo, só conseguir colocar o item escolhido dentro de uma sacolinha, ao invés de escolher um papel artístico, todo especial? Mas, em suas palavras, o importante era o que estava dentro. Imagina a minha expressão espanto, a pequena de 16 anos de idade, me conhecendo melhor do que qualquer um e na preocupação de que eu ia reparar naquele embrulho, eu estava feliz só em ver aquele sorriso estampado em sua face. Fiquei tão desnorteado com a sua beleza que ela até teve que me lembrar de abrir o meu presente, me dando um leve empurrão com os ombros. Pincéis e tinta . . . Aquela do tipo óleo, a que eu mais gosto para viajar no mundo das telas, aquela que eu já tinha lhe feito inúmeros quadros. Como se um sonho sendo realizado, era o material que eu me acabava de pedir para o meu pai, mas que ele achava que era frescura demais para o filho do capo, que viagens, roupas de grife, carros do ano, mesmo eu nem tendo idade para dirigir ou até mesmo uma arma, era mais apropriado, mal sabia ele o que aquelas coisas simples demais significavam para mim. O talento era de um artista reconhecido, não apenas por pertencer a uma casa de nome, mas pelo meu talento, daqueles tipos Picasso, de chamar a atenção aonde quer que fosse, de ser requerido por muitas e muitas galerias, reconhecido internacionalmente. Eu ia ser o melhor pois eu sou bom mesmo. Sei reconhecer as cores, visualizar e captar a essência das coisas, os detalhes, transformar uma coisa bruta em diamante, eu sabia sonhar dentro do mundo da pintura e a Patrizia viu isso, acreditou nisso tanto quanto eu. Eu me lembro de não conseguir segurar a minha felicidade dentro do peito e sorte era que todo mundo estava ocupado, nesse meu momento de sorte que parti para o meu primeiro beijo. A Patrizia furacão só ficou lá, parada, recebendo aquilo que eu queria dar, eu? Eu gostei de uma sensação estranha no meu corpo, uma coisa molhada na minha boca e um calafrio como se tivesse visto fantasma correu da ponta dos meus pés até o topo da minha cabeça. A partir daquele dia, a Patrizia era minha, com sete anos de idade, com quinze, com vinte. Ela cresceu do meu lado, junto comigo, dentro do meu coração e fora dele também, o meu amor de infância evolui e nós iríamos nos casar. Ela era diferente e eu gostava disso, colada em mim, a extensão do meu corpo, do meu pensamento, eu nem precisava dizer as coisas até o fim, porque ela sempre sabia onde era o ponto final na sua mente. Conforme fomos crescendo, que todos ao nosso redor foram vendo que a minha namoradinha de infância foi feita para ser moglie do capo, que nós não conseguíamos nos afastar por nada, acabaram por aceitar e enxergar vantagem. O que eu sentia por ela foi crescendo na mesma medida, era intenso, real, doloroso e grande de um jeito que eu não conseguia explicar. De manhã ela era o meu primeiro pensamento, de noite ela era o último e isso, depois de passar o dia inteiro do meu lado, me incentivando naquilo que eu queria ser. Imagina, ser um capo nunca esteve nos meus planos, mesmo meu pai querendo me passar o maldito trono, mesmo me treinando para valer, me fazendo ver coisas que até o diabo dúvida ser possível, mesmo ele tendo na mente que, para mim não havia outra opção, muito menos ser um maldito artista indignado, mas pra ela sim, para a Patrizia eu podia ter o mundo inteiro, mesmo que fosse apenas dentro do nosso quarto, da nossa casa. O sonho dela era mais simples, daqueles que só envolvia eu, ela, dois filhos e um cachorro... ela me dizia que, contanto que eu conseguisse viver em paz e lhe trazer paz, que ela estivesse ali para ver tudo de bom que eu podia proporcionar para a nossa família, ela ia estar feliz. Tão simples... um vestido branco, sem a famosa grinalda que todas as mulheres querem tanto ter se arrastando todo pelo chão, indo contra a todo o glamour da Nostra Casa, só um vestido mais soltinho do corpo mesmo, uma coroa de flores em diamantes, fina na sua cabeça, segurando o tule, todo furadinho e bordado que descia pelo seu rosto, proporcionando um charme a mais, um buquê com muitas de flores campestres, simples, mas lindas, como a minha Patrizia. Esse era o sonho dela que eu fiz questão de realizar, mesmo recebendo olhares tortos da máfia por quebrar mais um protocolo. Eu vi a felicidade no rosto da minha menina, vi o seu semblante se iluminando, eu a vi vivendo o sonho dela e agradecendo aos céus, todas as manhãs, porque tinha se tornado a mulher mais feliz de todo o mundo e tudo do meu lado. Mas aquilo não foi nada perto da luz que eu vi quando apareceu, numa fitinha azul e branca, um risquinho a mais que ela chamou de positivo, e também nada quando ela sentiu o primeiro chute dentro da barriga e aquele remexer que eu duvidava imensamente ser uma coisa normal, a barriga dela se transformava em bola quando o meu filho dava uma de jogador naquele espaço tão pequeno, e aquela luz nem se comparou a que tomou todo o quarto no dia em que, no meio da dor de quebrar ossos, ela trouxe o meu menino para o mundo. Tudo por causa da minha Patrizia, porque só ela tinha o poder de transformar o meu desespero em brisa suave. Só que maldita da vida me escolheu para aprender com a dor e todos os dias, eu me perguntava o porquê tinha que ser eu, o porquê eu tinha que ser tão feliz só para depois, cair do meio do penhasco sem ter a mão da Patrizia para me puxar para cima. Foi naquele dia que eu me esqueci que vivi dias de minha felicidade e comecei a quebrar, de uma vez só. Foi tudo tão rápido, a fraqueza, a perda de apetite, todas aquelas tonturas e desmaios, a correria para não deixar o meu filho ver nada daquele sofrimento. Mas a determinação estava ali, ela nunca quis colocar a vida da nossa filha em risco, aquela que estava na sua barriga, a da minha princesinha, por isso evitou muito remédio. Podia ter sido tudo diferente, eu podia estar sim com a minha mulher do meu lado, me entregando mais para os meus filhos, mimando todo mundo e me reconhecendo na frente do espelho. Podia ter sido tudo diferente, mas a vida decidiu assim, foi ela que levou a minha Patrizia depois de quinze meses de luta, foi ela que fez os meus filhos saírem cópia exata da minha mulher, principalmente a minha princesa, foi ela que me trouxe essa dor que eu não consigo fazer adormecer, só acalmar e isso quando me permito descontar a minha raiva em cima dos inimigos, que insistem em me testar. Foi assim que a vida que me quebrou e onde existiam sonhos, agora só existe escuridão. Eu não tenho mais vontade para olhar nos olhinhos inocentes dos meus filhos, eu não tenho mais vontade para reconhecer a minha Patrizia naqueles rostos, eu não tenho mais vontade para ficar de pai com minha prole como eu fazia quando a minha mulher estava do meu lado, caminhando comigo, sendo a minha felicidade. Agora amargurado com a vida, eu me transformei no capo que meu pai se empenhou tanto para que eu me tornasse. Aquele artista clássico morreu junto com a Patrizia, a única tela que eu pinto, são as faces dos meus inimigos com o seu sangue. Para quem já participou de tortura comigo, ou os mais íntimos, me chamam de Pintor e é nesse estilo que eu pinto agora, e só assim, eu consigo me acalmar um pouco.Viviane Nunca me achei uma mulher intensa. Nunca precisei de grandes amores, dessas paixões que destroem o que tocam e deixam cinzas atrás. Sempre preferi o conforto — a estabilidade elegante, o desejo medido. Fui criada assim. Observando mulheres como minha mãe medirem cada passo, cada olhar, como se o mundo fosse um salão cheio de armadilhas escondidas sob tapetes de seda. E talvez seja. Mas agora... agora tudo parece correr, e eu estou no centro do furacão que criei com as próprias mãos. Eu sabia que tinha que agir. Rápido. Giulia está grávida. A Casa Nostra celebrando como se o trono tivesse sido assegurado. Aquele bebê. Um herdeiro legítimo. Uma sombra sobre o meu. Meu filho. Respiro fundo e encaro o espelho. Meus olhos estão mais fundos, mais duros do que há um ano. E há tanto que não falo em voz alta... mas aqui dentro, há um mundo inteiro girando, desmoronando, tentando se reerguer. Lembro de Patrizia, ainda viva, e do silêncio que pairava sobre Enrico naquela ép
Donatela A casa estava silenciosa, como sempre ficava quando o vinho era trocado pelo sangue da suspeita. As cortinas pesadas de veludo verde escuro filtravam a luz da lua, que esgueirava-se por entre as folhas da videira que escalava a varanda. Eu podia ouvir o tique-taque lento do relógio antigo no salão — um som que normalmente me confortava. Mas naquela noite, ele parecia zombar de mim, marcando os segundos da minha crescente desconfiança. Victorio chegou atrasado. Como sempre, cheiro de cravo e fumaça. Vestia-se bem demais para um encontro particular. E o tom da voz dele, desde que entrou... ligeiramente mais baixo. Mais hesitante. — Você demorou. — Negócios... nossos amigos em Livorno estão inquietos. Sorri. Um sorriso calmo, treinado, quase maternal. Mas meus olhos estavam fixos nos dele. Ele se aproximou como sempre fazia, como se o corpo dele pertencesse àquele espaço entre meus braços. Beijou minha mão com familiaridade. Eu deixei. Até o momento certo. — Você anda fala
Enrico O celular ainda estava quente na minha mão quando ele explodiu contra a parede, estilhaçando porcelana e controle. O som fez Giulia se erguer num sobressalto, os olhos arregalados, alerta. — Enrico? — a voz dela vinha carregada de susto e uma intuição estranha. Ela sentia, antes mesmo de eu dizer. Virei para ela devagar, tentando manter o gelo que sempre me protegeu — mas naquele instante, estava derretendo por dentro. — Dispararam contra a mansão — falei, cada palavra mais pesada que a anterior. — Estavam todos lá. Nossos pais. Andrea, Giacomo, Guilhermo. Foi um ataque direto. Ela levou a mão ao estômago, como se o impacto da notícia tivesse acertado o corpo inteiro. E então, de repente, o rosto dela se contorceu em dor. — Giulia? Ela cambaleou um passo para trás, e eu a segurei antes que caísse. A mão dela foi direto para o pé da barriga. Os olhos se fecharam com força. — É só uma fisgada... — murmurou, mas a mentira era frágil. Ela tremia. — Não. Não é só isso. Você
EnricoEla estava ao meu lado. Casada comigo.Não diante de uma multidão, não sob holofotes, não com câmeras ou discursos ensaiados. Apenas ela. Apenas nós.Giulia sorria, ainda um pouco sem saber o que fazer, como se precisasse de tempo para acreditar que aquilo era real. A luz quente das lanternas refletia no rosto dela, e por um instante, tudo em volta desapareceu. Não havia Valerie, nem Carlo, nem Giacomo, nem o juiz de paz. Só ela — com aquele brilho nos olhos que misturava surpresa, emoção e... amor.E foi nesse instante que, por mais inesperado que pareça, pensei em Patrizia.O amor que eu já havia vivido. O primeiro. O que me formou e depois me despedaçou quando a perdi. Patrizia era intensa, corajosa, me amava como se não existisse amanhã. E, de fato, não existiu. Quando ela se foi, eu acreditei que jamais seria capaz de sentir algo semelhante. De amar de novo.Mas então, Giulia.Ver ela ali, diante de mim, com o vestido que dançava com o vento e os olhos marejados, me fez se
GiuliaA casa estava quieta demais.Nenhum som de passos, nenhuma panela na cozinha, nenhuma luz acesa. Um silêncio estranho — não o silêncio de paz, mas o silêncio de algo prestes a acontecer. Subi e desci as escadas sem encontrar ninguém. Nem mesmo um bilhete. Comecei a achar que tinha esquecido de algo importante, algum evento, uma reunião…Até que a porta da frente se abriu.Enrico entrou, com aquele jeito direto que sempre teve, e um brilho diferente no olhar.— Pronta? — ele perguntou, como se tudo estivesse perfeitamente normal.— Pronta pra quê? — franzi a testa.— Vem comigo — ele disse, e estendeu a mão.Pensei em perguntar. Em recusar. Mas havia algo na expressão dele — uma mistura de calma, decisão e algo... doce — que fez minhas perguntas se calarem. Peguei sua mão.No carro, ele ficou em silêncio. E eu também. Ele tinha andado estranho nos últimos dias, mais calado que o normal, como se estivesse carregando algo grande. Mas agora, havia um tipo de leveza nele que me conf
GiuliaEu não disse uma palavra durante o caminho de volta. Mamãe tentou me distrair com pequenas frases, gestos carinhosos, mas tudo que eu conseguia ver era o olhar de Viviane. A forma como ela segurava o menino. O jeito como ele se parecia com Enrico. E o pior de tudo: o silêncio dele.Meu peito parecia um campo minado, e cada suspiro era uma explosão. O carro deslizou pelos portões da mansão e, por um segundo, desejei que ele não abrisse. Queria ficar longe. Me esconder. Apagar tudo.Mas minha mãe segurou minha mão com firmeza, com aquele toque que só ela sabia dar. Um carinho silencioso que dizia: “Eu estou aqui.” Deitei no seu colo, ainda dentro do carro, procurando aquele cafuné que eu sempre amei ganhar. Ela enfiou seus dedos em meus cabelos e me fez um carinho calmo. Senti um alívio momentâneo, mas minha mente não aceitou, insistiu em me fazer voltar àquela lembrança da Viviane com seu filho.Descemos. E então, ele veio correndo.— “Mamãe!” — Giacomo gritou, com o rosto ilumi
Último capítulo