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Amor inacabado
Amor inacabado
Por: Lu Assis
Capítulo 1-Caminho de volta

Ariana Luna sempre acreditou que o barulho do mar tinha o poder de alinhar qualquer pensamento.

Naquela manhã dourada no Leblon, ela corria como se estivesse fugindo de si mesma — o sol estava nascendo atrás dos prédios, pintando o asfalto de laranja enquanto a brisa leve batia contra sua pele suada. O rabo de cavalo alto do seus longos cabelos pretos e lisos, balançava, os fones tocavam "Girl on fire", que fazia parte sua playlist preferida e acompanhavam seus passos firmes e ritmados.

Ariana parecia uma daquelas mulheres de comercial — e, ironicamente, era ela quem os criava. Ela era quem escrevia, aprovava e dava vida aos comerciais que marcavam tendências no país.

Seu relógio vibrou. Sete notificações da agência.

Ela riu com o canto dos lábios.

— Mal comecei o dia, gente…

Ariana brilhava no caos. Vivia dele.

Terminou a corrida e parou no quiosque da Neide, um ponto obrigatório na sua rotina. Pegou um coco gelado, tirou o óculos de sol para enxugar o rosto, e algumas pessoas olharam para ela como quem reconhece uma influencer famosa — bem vestida, bonita, aquela energia magnética de quem já deu certo na vida.

— Tá com cara de quem dormiu pouco — disse Neide.

— Pra variar — Ariana respondeu, piscando.

Depois da corrida, ela voltou para casa, caminhando entre turistas, surfistas e gente indo para o trabalho. Entrou no prédio, cumprimentou seu Jair, o porteiro com aquele bom dia animado dela e subiu para o apartamento no 18º andar, como ela chamava, seu pequeno santuário suspenso sobre o Rio.

Nao tão pequeno né, já que era um belo apartamento de 113 metros quadrados.

Ao abrir a porta, um cheiro leve de capim-limão a recebeu. O apartamento era exatamente como ela: clean, moderno, luminoso e cheio de personalidade.

A sala integrava tudo: paredes brancas com quadros coloridos de arte abstrata, sofá amplo bege com mantas de linho e uma estante alta com livros de publicidade, romances e plantas que ela fingia que sabia cuidar

As janelas enormes deixavam o sol da manhã invadir cada canto da varanda. A varanda era o seu lugar preferido, com uma rede bege, algumas velas, um tapete de sisal e uma vista que pegava a praia e um pedaço da lagoa.

Ali, ela se sentia acima do mundo.

A cozinha americana, era moderna e totalmente automática, mas ela quase nunca usava, só para preparar o seu smoothie de todo dia.

O elevador marcou 18 andar, Ariana entrou correndo em casa e logo foi para a cozinha preparar o seu smoothie enquanto abria a videochamada.

— Até que enfim apareceu! — reclamou Julia, mostrando o bebê pulando no berço. — Mamãe queria falar com você ontem!

—Ai maninha, reunião até tarde que esticou para uma baladinha, sabe né — Ariana disse, esfregando os olhos. — Mas estou viva. E vocês?

— Cansados, felizes… e morrendo de saudade de você.

Um aperto quente subiu pelo peito de Ariana.

Família longe demais.

Amor longe demais.

Mas trabalho… Ah, esse sempre estava perto. Sempre pedindo atenção.

— E aí, Ari — Julia perguntou com aquela sobrancelha levantada — como anda sua vida amorosa?

Ariana riu enquanto colocava o smoothie no copo de vidro, com uma rodela de limão na borda — mania de quem aprendeu a gostar de estética.

— Amor não paga boletos, Ju.

— Você tem boletos demais pra uma mulher tão linda, né? — a irmã provocou.

O celular vibrou de novo.

Liga­ção da agência.

Ariana fez uma careta.

— Tenho que atender.

— Vai, publicitária milionária — Julia disse, rindo.

Ariana desligou e atendeu o outro número.

— Ari — disse o chefe, direto e sem respirar — temos um problema. Fechamos um grande contrato com a Nature e eles já querem gravar uma campanha em Carapá, na Amazônia, para lançar a nova linha de produtos a base de Andiroba.

— Querem você na criação e na filmagem. A equipe parte amanhã cedo.

Ariana parou de respirar por um segundo.

Amazonas.

Carapá.

A cidadezinha perdida entre rios onde ela cresceu, onde todos se conheciam, onde a produção de andiroba era o orgulho local.

Onde ela era o patinho feio.

Onde seu coração ficou preso para sempre nos olhos castanhos de um garoto.

Eduardo.

O nome bateu nela como um vento forte.

— Ariana? — o chefe chamou. — Você está aí?

Ela pigarreou, recuperando o profissionalismo.

— Claro. Só preciso ajustar minha agenda. Mas acredito que consigo.

— Ótimo, vocês embarcam amanhã. Te mando tudo no seu e-mail.

Quando a ligação terminou, o silêncio do apartamento pareceu maior do que o normal.

O smoothie tremia na sua mão.

Carapá.

Depois de duas décadas.

Voltaria a pisar nas ruas de terra, ouvir o sotaque arrastado da infância, sentir o cheiro de andiroba sendo prensada nas casas das famílias...

E, inevitavelmente, reencontrar ele.

Eduardo.

Seu amigo.

Seu protetor.

Seu amor impossível.

O menino bonito que ela amou por toda a vida.

Ariana encostou na bancada de mármore, respirando fundo.

— É só trabalho… — sussurrou.

Mas a verdade ardia na garganta.

Alguns amores não acabam.

Eles apenas ficam adormecidos.

À espera da primeira oportunidade de acordar.

E agora, com uma única ligação, o dela tinha acabado de despertar.

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