Mundo ficciónIniciar sesiónDesirée
Assim que desço no aeroporto meus pais me recepcionam. Ambos estão sorrindo, percebo as marcas da idade em seus rostos e fico feliz de finalmente estar de volta. — Bem-vinda minha querida. — diz papai. Mamãe não diz nada, apenas me abraça e chora. Chora tanto que molha meu ombro. — Que saudade de vocês dois. Estou muito feliz de estar em casa! — respondo. Nós três vamos conversando e rindo até o carro, ao abraçá-los sinto o cheiro deles, isso faz com que eu me sinta verdadeira em casa. O motorista deixa meu pai na imobiliária e se dirige ao centro da cidade. — Mãe, onde estamos indo? — pergunto. — Vamos comprar a sua roupa para hoje a noite. Sei que você deve querer descansar nas próximas horas, mas estou tão animada para fazer compras com você que não posso esperar — ela responde. — Tudo bem mãe. Vamos comprar uma roupa incrível. Descemos em uma boutique que não entro a anos, pertence a uma amiga da minha mãe. Olho todos os vestidos e escolho um preto, estilo sereia. Ele modela meu corpo sem mostrar demais. É de seda, vai até o chão e possui alças delicadas. Escolho um scarpin vermelho, ele completa meu look demonstrando a minha essência forte, que complementa com o vestido delicado. Passo o restante do dia descansando no meu antigo quarto, ainda não procurei um apartamento aqui na região. Quando chega a noite me arrumo. Escolho uma tela que pintei no ano passado, ela possui um valor elevado, será uma excelente arrecadação de fundos para as crianças. Me olho no espelho e me analiso, estou pronta. Subo na minha Harley Davidson preta. Ela ficou parada todo esse tempo me esperando, mas meu pai garantiu que estivesse bem cuidada. Chego no salão, olho a todos os presentes. Um lugar cheio de ricos e magnatas, alguns estão aqui para ajudar as crianças, outros estão aqui para se promover, tudo em nome do benefício próprio. Entre boas pessoas e hipócritas vejo ela, a mulher mais linda que já vi. Ela está conversando com o garçom, é educada e o trata como igual. Vejo ela sorrir, gostaria de saber o que tanto a diverte na conversa dos dois. Ela possui olhos cor de mel, cabelos loiros amanteigados na altura do peito, levemente ondulados. Usa um vestido azul claro longo, parece simples na frente, mas possui uma linda abertura deixando suas costas nuas. Reparo cada centímetro dela, o seu pescoço, seu colo, suas mãos. Eu achei que o seu sorriso era a parte mais atraente do seu corpo, mas então ela me olha. E eu percebo que não é o sorriso, são os olhos. Ela tem olhos de gavião, sinto que a qualquer momento vai me atacar. Meu corpo queima, sinto um calor subindo pela espinha, meu rosto arde. Eu queria muito que aquele gavião me atacasse. Então ela se despede do garçom e se dirige para a sacada. É a minha chance, eu preciso saber o nome dela. Me aproximo e sinto o seu aroma, o vento empurra seu cheiro até mim. E é inebriante. Me sinto bêbada ao seu lado. — Boa noite — ela diz, sem sequer se virar para mim. — Boa noite — respondo. — Como você se chama? — ela perguntou virando-se em minha direção. — Desirée e você? — Helena. Helena, ela se chama Helena. Seu nome se encaixa perfeitamente. Ela é como Helena de Tróia, qualquer pessoa faria uma guerra em troca de estar ao seu lado. Eu guerrearia para provar o seu sabor apenas esta noite. — Você é aqui de Brasília? Nunca te vi nesse tipo de evento. — ela pergunta. — Eu nasci e cresci aqui, mas passei os últimos anos no Rio de Janeiro, estudando e trabalhando — respondi. — Com o que você trabalha? — Sou artista, eu faço quadros e esculturas. Inclusive, gostaria de pintar você um dia, se me permitisse. É agora ou nunca, quero que ela perceba que eu estou atraída por ela. — É sério? Ninguém nunca me pintou antes. Na verdade acho que seria incrível — ela responde sorrindo. Quando ela sorriu achei que eu fosse cair da sacada. Cada movimento que ela faz me fascina. O jeito que ela move os lábios quando fala, o jeito que o seu colo tão macio se movimenta quando ela respira. — Esse é o meu cartão, pode me ligar. Ela abre a mão e eu coloco o cartão, quando nossas peles se encostam sinto um choque. — Eu te ligo amanhã. Agora preciso ir, amanhã é meu primeiro dia de trabalho — diz Helena. E ela simplesmente saí. Não consigo nem perguntar com o que ela trabalha. Eu fico sentindo o vento fresco, agora sem o perfume dela. Eu quero vê-la de novo. Helena Chego no evento de caridade e cumprimento a maioria das pessoas presentes, todos que conheço. Vejo muitos rostos antigos e rostos novos, percebo que muitos filhos vieram no lugar dos pais, exatamente como no meu caso. Estamos em um momento de troca de gerações, os pais estão se aposentando e os filhos estão assumindo seus postos em seus negócios. Converso com Felipe, um conhecido de infância que está trabalhando como garçom. Anos atrás, meu pai trabalhou para o pai de Felipe, ele havia sofrido um golpe financeiro, alguém fez inúmeras dívidas em seu nome. A defesa do meu pai conseguiu provar que o pai de Felipe era inocente, e assim o seu nome foi limpo. Não foi um caso grandioso, nem difícil, mas para a família de Felipe mudou tudo. Hoje Felipe é dono de uma rede de buffet, ele doou o seu serviço ao evento e inclusive assumiu a função de garçom nesse dia, para auxiliar sua equipe. Eu o admiro muito, ele é um patrão exemplar e um homem amoroso com os seus filhos e esposa. Noto que algumas pessoas o desprezam, assim como os demais funcionários dele por serem “simples garçons”. Isso me causa repulsa. Enquanto converso com ele, percebo uma mulher me olhando fixamente. Encerro a conversa e me dirijo à sacada para respirar ar fresco, preciso ir embora cedo para trabalhar amanhã. Ouço passos, sei que é a mulher que me encarava. Quando me viro para falar com ela fico chocada. Ela tem a pele morena, bronzeada pelo sol. Cabelos longos e lisos, escuros como a noite de hoje. Ela está usando um vestido de seda preto, ele seria simples em qualquer outro corpo, nela não. Ele molda o seu corpo e consigo ver os seus músculos, enxergo as marcas de uma barriga trincada. Vejo seus bíceps descobertos. Ela carrega um olhar selvagem. Não entendo porque ela fala comigo, diz que quer me pintar. Eu pego o cartão que possui o contato dela, nesse momento nossas mãos se encostam e eu sinto um choque. Uma descarga elétrica percorre todo o meu corpo e arrepia os pêlos do meu braço. Ela é linda e sedutora. Justamente por isso preciso ir embora






