Capítulo 8
Catarina ignorou todos e voltou ao sótão, esse pequeno espaço que lhe pertencia, onde tratou sozinha dos próprios ferimentos.

Depois de terminar tudo, deitou-se na cama, olhando fixamente para o céu noturno tingido de uma escuridão densa.

Ela desejava que o tempo passasse depressa.

Queria sair daquele lar frio o quanto antes.

Nos três dias seguintes, a Família Serpa começou a preparar animadamente a festa de Joana.

Gilberto realmente gostava muito dela e anunciou que iria ao cartório para adotá-la oficialmente, dizendo que ela era cem vezes melhor do que sua própria filha.

No dia da festa.

Até mesmo Gilberto, que jamais comparecera a uma reunião de pais da Catarina, vestiu pela primeira vez um terno caríssimo feito sob medida.

Ninguém convidou Catarina.

Era como se todos tivessem esquecido de sua existência naquela casa.

Antes de saírem.

Joana bateu à porta do sótão.

No rosto dela já não havia o habitual ar dócil e tímido.

— Catarina, ajoelha-se e me implora.

— Eu posso convencer o papai a te perdoar.

Vendo Catarina impassível, Joana não conseguiu mais reprimir o sorriso nos lábios:

— Você, em tudo, é melhor do que eu, menos em uma coisa: não sabe abaixar a cabeça e conquistar quem está ao seu redor.

— Por isso, só te resta assistir, de olhos abertos, enquanto eu tomo seu amor, sua família e até mesmo suas patentes.

— Fico curiosa, por que você ainda não se matou? Viver como um cachorro, tem graça?

...

Joana disse muitas coisas.

Ela não temia que Catarina contasse a alguém.

Agora, ninguém acreditaria em Catarina, não importava o que ela dissesse.

Só quando Fábio a chamou, Catarina saiu dali e foi, junto com a Família Serpa, para a festa.

Depois que Joana foi embora, Catarina tirou debaixo da cama um gravador ainda ligado.

Apertou delicadamente o botão de [Parar Gravação].

Hoje também era o dia em que ela deixaria aquela cidade.

Antes de partir, queria que a Família Serpa visse com os próprios olhos: que tipo de flor do mal haviam cultivado.

Meia hora depois, o carro da faculdade de medicina chegou.

Ao perceber que Catarina levava apenas o retrato da mãe, quem veio buscá-la estranhou: — Vamos partir agora. Não vai arrumar mais nada?

— Não preciso de mais nada.

Catarina apertou o retrato contra o peito e balançou a cabeça.

Fora aquilo que carregava nos braços, não queria levar mais nada.

Ao chegar ao aeroporto, Catarina sentou-se na sala de embarque, sentindo o calor do sol acariciar sua pele.

Ali era o início de uma nova vida.

Nesse momento, Bruno ligou.

No dia anterior, ele tinha voltado ao restaurante e assistido às imagens da câmera de segurança.

Só então percebeu que, na verdade, Joana tinha tropeçado sozinha, sem culpa de Catarina.

— Depois da festa, vamos nos encontrar. Fui duro demais com você, quero me desculpar.

— Aliás, da última vez não pude passar seu aniversário com você, acabei esquecendo por causa do trabalho. Desta vez, quero compensar. Já comprei o presente.

Ele não se preocupava, Catarina certamente aceitaria.

Conhecia-a bem demais.

Antes, não importava o quanto a magoasse, bastava um pouco de carinho e Catarina sempre voltava para ele, sem exceção.

Porém, desta vez, Catarina não disse uma palavra.

O silêncio estranho o deixou inquieto.

O anúncio soou, era hora do embarque.

O rosto de Bruno mudou drasticamente:

— Espere, que barulho é esse? Onde você está?

Catarina desligou o telefone, tirou o chip do gravador e o quebrou com os dedos.

Agora, ela já não se deixava mover por sentimentos falsos.

Seja o pai, o irmão ou o antigo amigo de infância, não queria ver nenhum deles.

Com esse pensamento, deu alguns passos e partiu, sem nunca mais olhar para trás.
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