Nos olhos de Catarina havia apenas um sarcasmo frio.
Depois de ter seu coração completamente destruído, ela já não nutria nenhuma expectativa em relação a Bruno.
Com tranquilidade, ela soltou uma frase: — Entendi.
Fábio, porém, olhava para ela em total incredulidade:
— Bruno cuidou tanto de você na época, e é só isso de sentimento que você tem por ele?
— Irmã, desde que a mãe se foi, você ficou tão estranha.
— A Joana quase perdeu a vida por sua causa, você nem se preocupou em dizer uma palavra de consolo.
— Eu entendi tudo. Você culpa a Joana por ter tirado de você o carinho da família, no fundo, quer mesmo que ela morra, não é?
— A Joana já passou por tanta coisa, e você ainda sente inveja dela, quando foi que você ficou tão amarga assim?
Ao ouvir isso, Catarina sentiu vontade de rir.
Se Joana realmente quisesse se suicidar tomando remédios, como teria calculado a dose com tanta precisão, para ser encontrada justamente a tempo pela Família Serpa?
Nos últimos anos, Joana vinha usando artimanhas como essa para roubar, pouco a pouco, todo o afeto de sua família, Catarina já estava acostumada.
Além do mais, mesmo que tentasse se explicar, o resultado seria o mesmo de agora: sem dizer uma única palavra, ela já era acusada de todos os crimes possíveis.
Até seu silêncio era um erro.
Antes de sair, Fábio falou em um tom gélido, como se tivesse perdido toda esperança em Catarina:
— Você sabia? Eu queria tanto que, naquele acidente, quem tivesse doado sangue para mim fosse você, não a Joana.
— Você é minha irmã de verdade, mas, no momento mais perigoso da minha vida, você se escondeu. Eu te odeio.
Com um estrondo de porta batendo, Fábio foi embora, sem olhar para trás.
Seis meses antes, Fábio fora atingido por um carro dirigido por um motorista bêbado. Perdeu muito sangue e estava em estado crítico.
O estoque de sangue do hospital estava baixo, faltavam ainda 1400 mililitros.
Gilberto e Catarina estavam prontos para doar juntos e tentar salvá-lo.
Porém, Gilberto doou apenas 200 mililitros e logo gritou dizendo que não aguentava mais, exigindo que o médico retirasse a agulha.
Já Catarina, ao doar até 800 mililitros, já estava semi-inconsciente.
Mas, ao pensar no irmão que estava deitado numa cama de hospital, ela resistiu à dor e deixou o médico tirar, de seu corpo, os 1200 mililitros necessários.
Quando acordou, percebeu que estava em um quarto de hospital antigo e desconhecido.
Não havia ninguém ao seu lado.
A verdade era que Gilberto, para que o filho se aproximasse da nova estudante bolsista, Joana, dissera que tinha sido ela quem doara o sangue para salvar Fábio.
Após receber alta, Catarina, ainda debilitada, foi procurar Fábio para explicar tudo.
O que recebeu em troca foi um tapa no rosto.
Chorando e gritando, ele perguntou por que não a encontrara quando mais precisava.
E que Joana doara tanto sangue por ele, quase perdendo a própria vida.
Sufocando a amargura, Catarina disse para ele conferir o registro das doações no hospital, assim saberia quem realmente o salvara.
Mas ele, até hoje, nunca foi verificar.
Ao contrário, acreditava firmemente que 20% do seu sangue vinha de Joana.
No coração dele, a própria irmã era alguém fria, incapaz de ajudar quem precisava, uma ingrata.
Não importava o que ela fizesse ou dissesse, tudo era visto como falsidade.
Não importava.
Ela não queria mais se explicar, estava cansada.
Catarina sentou-se no sofá, o apartamento silencioso não tinha nenhum sinal de lar.
O vento lá fora uivava, ela fechou os olhos e tapou os ouvidos.
Ainda assim, não conseguia escapar daquela atmosfera pesada e sufocante, que parecia prestes a esmagá-la a qualquer momento.
Já que ninguém mais naquela casa se importava ou precisava dela, então, que ela desaparecesse para sempre.