O celular tocou.

Era Joana que havia postado no Instagram para avisar que estava bem: [Agradeço a todos pela preocupação, já estou bem, obrigada ao Bruno por sempre estar comigo quando mais precisei, vou passar o resto da vida te retribuindo.]

A foto mostrava Joana deitada em uma cama de hospital, de mãos dadas com Bruno, que a acompanhava ao lado.

Os dois pareciam feitos um para o outro.

Mas Catarina apenas passou os olhos rapidamente pela postagem, desligou a tela do celular e o deixou de lado.

Ela e Bruno já tinham terminado.

Não importava se Joana queria se exibir para ela ou provocá-la, Catarina não se importava, tampouco sentia qualquer alegria ou tristeza por isso.

Preparou para si mesma um jantar quente, e logo foi dormir.

Depois que a casa ficou completamente vazia, aquela foi, curiosamente, a noite mais tranquila que ela dormiu em anos.

Na manhã seguinte, ao acordar, Catarina preparou um café moído na hora para si, sentou-se em uma cadeira de vime no quintal, ouvindo o rádio matinal, enquanto alongava o corpo.

Sempre sobrecarregada com as questões da casa, era a primeira vez que ela sentia tanto prazer em viver.

Ela já deveria ter começado a viver por si mesma há muito tempo.

Depois do café da manhã, Catarina voltou ao quarto, pensando em separar também os presentes que Bruno lhe dera, para devolvê-los.

Mas, ao organizar, percebeu que, durante todos aqueles anos de relacionamento, podia contar nos dedos as coisas que havia recebido de Bruno.

Eram poucas, e todas de pouco valor.

Mesmo assim, cada uma delas tinha sido guardada como um tesouro por Catarina, trancadas cuidadosamente em uma gaveta.

Porém, ao tirar tudo, percebeu que os presentes estavam amarelados, embolorados pelo tempo.

Assim como o sentimento de Bruno por ela.

Catarina balançou a cabeça.

Bruno era obcecado por limpeza, não aceitaria nada disso de volta.

Ela jogou tudo em um tambor de ferro, junto com todas as fotos que tiraram juntos, e ateou fogo.

As chamas intensas devoraram, impiedosamente, todas as memórias felizes do passado.

Depois de tudo, Catarina foi solicitar o trancamento de sua matrícula na universidade.

Nos dias que lhe restavam, queria viajar pelos arredores, mudar de ares.

Enquanto folheava guias de viagem, Bruno chegou.

Ao contrário de Catarina, que estava tranquila.

Após ouvir Fábio comentar que Catarina recebera os presentes devolvidos sem qualquer expressão, Bruno passou a noite inteira sem conseguir dormir.

Ele conhecia o amor que Catarina tinha por ele melhor do que ninguém, não podia acreditar que ela reagiria daquela forma.

No entanto, ao ver os presentes e fotos queimados no tambor do quintal, sentiu como se o mundo desabasse:

Aquelas coisas, que antes Catarina guardava como preciosidades, agora tinham sido descartadas como lixo?

— Por que você queimou os presentes que te dei e nossas fotos?

Ouvindo a voz de Bruno, levemente trêmula,

Catarina ergueu o olhar, encarou o rosto pálido dele:

— Ficaram velhos e emboloraram, então queimei.

Bruno ficou surpreso por um instante, e logo pareceu entender algo: — Você sabia que eu viria, então encenou tudo isso de propósito, para tentar me reconquistar fingindo que não se importa, não é?

— Catarina, por que você sempre age de modo tão irracional?

Ele quis sair imediatamente, mas, de relance, notou o documento de trancamento da matrícula de Catarina sobre a mesa de centro.

A mente de Bruno ficou completamente vazia.

— Você vai trancar a faculdade? Só porque pedimos que você cedesse a patente para a Joana?

— Fala, para onde você vai?

Um medo inexplicável tomou conta de Bruno, e ele segurou com força o braço de Catarina.

Embora Catarina estivesse ali, ao alcance dos olhos e das mãos.

Por algum motivo, ele sentia que Catarina poderia desaparecer para sempre a qualquer momento.