O fim de tarde caía com suavidade, como se o mundo inteiro tivesse desacelerado só para deixar aquele momento acontecer. O quintal estava banhado por uma luz dourada, que se derramava sobre as folhas, sobre os brinquedos esquecidos na grama e sobre a rede onde Luna e Angie descansavam juntas. O ar estava calmo, com o cheiro de terra ússida misturado ao perfume suave do sabão de coco das roupas secando no varal.
Luna, com quase seis anos, estava deitada de lado, a cabeça no colo da mãe, os olhos meio fechados. Passava o dedo preguiçosamente pelas linhas do rosto de Angie, como se desenhasse memórias invisíveis.
— Mamãe...
Angie acariciava os cabelos da filha com uma mão, enquanto lia um trecho de um livro com a outra. Interrompeu a leitura e sorriu:
— Hm?
Luna hesitou. O tom da pergunta vinha com cuidado, como quem pisa em vidro fino:
— Por que você tem aquela cicatriz grandona na barriga?
Angie fechou o livro devagar e pousou-o no colo. Sabia que esse momento chegaria, mas como tantas