Entro apressada no quarto, revisando mentalmente os exames da paciente. Estou atrasada para a troca de plantão, mas hoje o hospital está um caos.
Nem olho quem está de pé próximo à cama. Só quando levanto os olhos é que o mundo inteiro para.
Meus pés congelam no chão.
Samuel.
Por um segundo, penso que estou sonhando. Ou que meu cérebro está me pregando uma peça cruel. Meu coração dispara, a respiração some. Meus dedos apertam a prancheta com força, tentando manter a compostura.
Ele também congela quando nossos olhos se encontram.
Meu Deus. Ele está aqui.
Aquele mesmo olhar intenso, agora ainda mais maduro, carregado de um peso que eu reconheço. Anos se passaram, mas basta um segundo para tudo o que guardei, escondi e enterrei vir à tona com violência.
A última vez que o vi... eu estava quebrada. Nós estávamos quebrados.
Meu estômago vira. Sinto um calor subir pelo meu corpo, como se o ar ao redor tivesse ficado rarefeito. É como se meu coração ganhasse vida de novo, e eu odeio a forma