O juiz chama o próximo nome e meu coração aperta quando ouço:
— Murilo Portulla.
Ele se levanta do banco à minha frente. Não preciso me virar para saber que está nervoso; conheço meu irmão melhor do que ninguém. A gola da camisa social se move sob os dedos dele enquanto ele a ajeita pela quinta vez, como se a formalidade do terno pesasse mais que o passado que está prestes a desenterrar.
Ele caminha até o centro do plenário, passa por mim e, por um instante, nossos olhos se encontram. Eu vejo tudo ali — dor, amor, vergonha, força. Eu assinto levemente, como se dissesse “vai ficar tudo bem”, mas sou eu quem precisa acreditar nisso.
Murilo é conduzido à cadeira das testemunhas. Jura dizer a verdade. A voz do juiz ecoa em meus ouvidos, mas tudo parece abafado. Meu irmão engole em seco e começa.
— Eu sou Murilo Portulla. Irmão da Jade. — Ele olha de relance para mim e volta o olhar para o juiz. — E filho de Otávio.
O silêncio na sala é denso. Todos aguardam, atentos.
— Desde pequeno...