A claridade fria da enfermaria não combina com a inquietação que vibra dentro de mim. O ar-condicionado zumbe baixo, constante, enquanto caminho pelo corredor com o café na mão e a cabeça longe. As vozes dos pacientes se misturam às máquinas e aos alarmes — ruídos que normalmente me centrariam, mas hoje são apenas pano de fundo para a confusão que me persegue desde que entrei naquele carro com Samuel.

Chego até a pequena sala de descanso. Ayla já está lá, sentada com as pernas cruzadas sobre a cadeira, devorando um pacote de biscoitos e rolando o celular com a outra mão.

— Finalmente — ela diz, sem tirar os olhos da tela. — Já ia te dar como desaparecida.

Sorrio sem vontade e me jogo na cadeira ao lado. Respiro fundo.

Ayla me encara com aquela cara de quem sabe mais do que deveria.

— Então? Vai me contar o que houve depois da ligação ou eu vou ter que fazer um boletim de ocorrência?

Reviro os olhos, mas não consigo esconder o cansaço estampado no meu rosto.

— Não tem o que contar,