O café está quente e forte. Sento à mesa ainda com a farda no corpo, caneca em uma mão, pão na outra, tentando fingir que é só mais um domingo comum. Rigel tá ao meu lado, empolgado, os pés balançando na cadeirinha adaptada para que ele fique no alto enquanto toma Nescau como se fosse chocolate suíço.
— O do papai é muito mais gostoso que o da mamãe — ele diz, estufando o peito com orgulho.
Dou uma risada curta, largo o pão no prato e passo a mão no cabelo dele, bagunçando ainda mais os cachos que Dona Helena tinha acabado de arrumar.
— Segredo do seu avô. — digo. — Ele me ensinou quando eu era do seu tamanho.
Os olhos de Rigel brilham, como se eu tivesse revelado uma fórmula mágica.
Dona Helena revira os olhos, mas sorri. Ela está de avental, mexendo alguma coisa no fogão.
O rangido leve de uma porta no andar de cima chama minha atenção. Alguns segundos depois levanto os olhos e vejo Jade entrando na cozinha com passos preguiçosos, moletom largo, cabelo bagunçado e aquele olhar meio