Ignácio entrou de terno impecável e, ao ver Clarinda, seus olhos brilharam.
Deu alguns passos em direção a ela, mas ao me ver sentada, hesitou e foi direto para o lado de Clarinda.
— Trouxe isso pra você.
— Sério? Deixa eu ver!
Clarinda abriu a caixa de presente e encontrou um lindo colar de diamantes.
— Sabia que você ia gostar. Comprei especialmente pra você num leilão.
O olhar de Ignácio era todo para Clarinda, cheio de carinho.
E ele esqueceu que hoje era nosso aniversário de namoro de três anos.
Na verdade, nem terminamos oficialmente.
Clarinda sorriu radiante.
— Está lindo! Coloca em mim!
Ignácio colocou o colar, os dois bem próximos, parecendo perfeitos juntos.
— Eu adorei, você já me deu tantos diamantes, mas esse é o mais bonito!
Senti um aperto no peito. Olhei para Ignácio, que me lançou um olhar de alerta. Mesmo assim, perguntei:
— Ignácio, você sempre presenteia a Clarinda?
Clarinda assentiu.
— Todo mês, vários diamantes, nem consigo contar.
Que ironia.
Os diamantes da Clarinda, ele escolhia a dedo.
Os meus, eram apenas por obrigação.
Uma mulher que servia só de passatempo, ele nem precisava saber do que eu gostava.
O diamante rosa brilhava tanto que doía nos olhos.
Não sei de onde veio a coragem, mas perguntei com ironia:
— Ignácio te trata tão bem, será que a namorada dele não se incomoda?
O sorriso de Ignácio sumiu, ele me lançou um olhar ameaçador.
Clarinda não ouviu, pois chamou:
— Irmão!
E voltou-se para mim:
— Meu irmão chegou, já volto!
Assim que ela saiu, Ignácio me puxou para o jardim vazio.
Ele franziu a testa, com os olhos cheios de repreensão.
— Paloma, o que você quer?
Esfreguei os olhos marejados.
— Eu que deveria perguntar: Ignácio, hoje é nosso aniversário de namoro de três anos.
— Você ainda vai revelar nosso relacionamento?
Ignácio se surpreendeu com a pergunta e coçou o nariz, sem jeito.
— Ando muito ocupado, depois a gente resolve isso.
Sob a luz do luar, percebi que ele não conseguia parar de olhar para dentro do salão.
Nem por um instante conseguia esquecer Clarinda.
— Paloma, você sempre foi madura, por que mudou tanto?
O peito doeu forte.
Só porque sou madura, ele acha que pode me pisar assim?
— Ignácio, você não termina comigo só pra não ser o vilão, não é?
O rosto dele ficou vermelho, como se eu tivesse acertado.
— Não é isso. Quando eu quis terminar? Paloma, não seja irracional, assim você perde o encanto.
Sorri.
— Clarinda é encantadora, perfeita. Ignácio, vamos terminar, fique com ela.
— Paloma!
Ele me repreendeu, baixo.
— O que Clarinda tem a ver com isso? Não envolva quem não tem culpa.
Clarinda é inocente, e eu sou a errada?
Fechei o punho, arranquei o colar do pescoço.
— Eu nunca gostei de diamantes. Fique com sua esmola barata e suma da minha frente!
Foi a primeira vez na vida que falei palavrão, já não aguentava mais.
O rosto de Ignácio escureceu.
— Paloma, não exagere!
Eu ia responder, mas uma voz fria e grave veio de trás.
— Se não gosta, jogue fora. Aqui não se guarda lixo.