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Capítulo 5 – Nova Casa, Novos Sentimentos

MIRELA

O carro deslizou pelas ruas arborizadas de São Paulo, e eu olhava tudo pela janela, tentando conter a ansiedade.

Quando estacionamos em frente a um prédio gigantesco de fachada espelhada, meu coração acelerou. Segui o tio Thiago pelo saguão elegante até o elevador panorâmico, que subia suavemente enquanto a cidade ficava pequena sob nossos pés.

Assim que a porta se abriu no último andar, meus olhos se arregalaram.

O apartamento era imenso. Pé direito duplo, paredes de vidro de onde se via a cidade inteira, móveis modernos, decoração minimalista — e ainda assim acolhedora. Cada ambiente parecia saído de uma revista de arquitetura.

Era difícil acreditar que alguém podia viver sozinho ali, naquele mundo particular.

Ele soltou as chaves em cima de uma mesa de mármore e sorriu de lado, aquele sorriso fácil que eu ainda lembrava da minha infância.

— Vou te mostrar os quartos — disse, guiando-me por um corredor longo e iluminado.

As portas iam se abrindo uma a uma, revelando suítes que eram maiores que a casa da família minha amiga Rafaela. No fim do corredor, ele apontou para a última porta.

— Esse é o meu. Pode escolher qualquer outro.

Fiquei parada por um segundo, pensando. Então, sem muita lógica, abri a porta do quarto mais próximo ao dele.

— Esse aqui, tá ótimo.

Ele apenas assentiu, me lançando um olhar indecifrável antes de se afastar.

Entrei no quarto e me joguei na cama macia, soltando um suspiro. A sensação era estranha: aquela casa, aquele homem... tudo era novo e familiar ao mesmo tempo. Levantei e comecei a desfazer as malas, dobrando minhas roupas e arrumando os poucos pertences que tinha trazido.

O cheiro dele estava em tudo — couro, madeira, perfume amadeirado misturado com algo masculino e inebriante que eu não conseguia nomear.

Assim que terminei, fui para a sala. O tio Thiago estava mexendo no celular, mas quando me viu, sorriu.

— A gente precisa ver uma escola pra você — disse, sentando-se casualmente no sofá, com as pernas abertas e o braço estirado sobre o encosto, como se tomasse posse do ambiente inteiro. — Você já tem alguma em mente?

— Tenho sim — respondi rápido, sentando do outro lado. — Meus pais já tinham pesquisado antes... quando eu queria fazer faculdade aqui em São Paulo, eu queria a Escola Internacional. Tem cursinho pra quem quer vestibular e aulas de reforço de inglês e francês.

Ele assentiu, já digitando algo no telefone.

— Vou ligar pro advogado. Ele resolve tudo.

Fiquei observando-o enquanto falava ao celular. Era impressionante como ele parecia controlar tudo com facilidade, como se o mundo girasse ao seu redor e ele apenas desse as ordens.

Quando desligou, relaxou no sofá e me encarou.

— Tá resolvido. Amanhã já começamos o processo de matrícula.

De repente, me lembrei de uma dúvida que fervilhava em minha cabeça.

— Posso receber visitas? — perguntei, tentando soar casual.

Ele ergueu uma sobrancelha, curioso.

— Claro. Aqui também é sua casa agora, Mirela. Faça o que quiser.

Sorri, aliviada.

— Que bom... meu namorado vai querer vir me ver às vezes.

Foi como jogar um balde de água gelada no ambiente. A expressão dele endureceu na hora. O maxilar trincou, e ele ajeitou o corpo no sofá como se algo o incomodasse profundamente.

— Namorado? — repetiu em um tom baixo, quase rouco.

Assenti, tentando soar natural.

— Sim... Rodrigo. A gente namora há quase quatro anos.

Ele passou a mão nos cabelos, bagunçando ainda mais os fios grisalhos que eu achava tão bonitos, e soltou um suspiro pesado.

— Eles... sabiam disso?

Assenti de novo, firme.

Menti. Eu e o Rodrigo namorávamos escondido. Meu pai não me deixava namorar.

Meus pais nunca souberam.

Mas ali, diante do olhar desconfiado do tio Thiago, achei melhor pintar uma versão mais aceitável da história.

Ele não disse mais nada, apenas desviou o olhar para o teto por alguns instantes, como se estivesse digerindo a informação.

A tensão era palpável no ar.

Para quebrar o clima, ele pegou o telefone e pediu comida. Falava com naturalidade, como quem já tinha decorado o cardápio de todos os restaurantes da cidade.

Enquanto esperávamos, ele me olhava como se tentasse entender quem eu era agora.

— E aí, pequena? — perguntou, recostando-se no sofá. — Me conta mais de você. Que curso quer fazer? Quais são os seus planos?

Comecei a falar. Sobre os sonhos que tinha para o futuro, sobre estudar Jornalismo, viajar, fazer a diferença no mundo. Ele ouvia com atenção, os olhos presos em mim, como se cada palavra fosse um pequeno tesouro.

Era estranho... nos primeiros minutos, me senti analisada, como se ele tentasse reencontrar a menina que conheceu anos atrás. Mas logo, percebi algo a mais no olhar dele — algo mais quente, mais denso.

E eu... eu sentia o sangue aquecer nas veias cada vez que nossos olhares se cruzavam por tempo demais.

O que está acontecendo comigo? pensei.

Felizmente a comida chegou, e o clima relaxou um pouco. Sentamos lado a lado à mesa da grande sala de jantar, dividindo pratos e risadas tímidas. Parecia que tentávamos construir uma ponte sobre um abismo de emoções que nem ousávamos nomear ainda.

E, em meio àquele momento, me dei conta de que viver com o tio Thiago não seria simples.

Não era só a perda dos meus pais que bagunçava meu peito.

Era ele.

Era aquele cheiro, aquele sorriso torto, aquele jeito de me olhar como se eu fosse algo que ele não devia querer... mas queria.

E eu... talvez, muito no fundo, já queria também.

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