MIRELA
Nunca vou esquecer aquele silêncio.
Aquele tipo de silêncio que parece engolir tudo: palavras, planos, esperança. Foi o que aconteceu no consultório, quando o médico respirou fundo antes de dizer:
— Infertilidade masculina.
Meus olhos buscaram os de Thiago. Ele ficou parado, como se não tivesse entendido de primeira. E eu entendi. Entendi que naquele instante ele se sentiu falho, culpado, menor. Eu quis correr pra ele, tirar aquela dor do peito dele, dizer que a gente ia ficar bem. Mas por um segundo… a gente só ficou em silêncio.
Depois veio o choro. Dos dois. Sem vergonha, sem culpa. Só lágrimas e um abraço tão apertado que dava pra ouvir o coração do outro dizendo: “tô aqui”.
Foi um luto. Não só pelo filho que não viria de nós dois, mas por todos os testes de farmácia que a gente comprou na esperança. Por cada exame. Por cada vez que eu acordei no meio da madrugada acreditando que, talvez, aquele enjoo fosse sintoma de gravidez.
Mas sabe de uma coisa? A dor ensinou. A dor r