MIRELA
Tem noites que o silêncio pesa. Que a casa parece grande demais, mesmo com o som suave da babá eletrônica no quarto ao lado, ou os braços fortes do Thiago ao meu redor. Tem noites que o escuro me transporta de volta para lugares onde jurei que nunca mais voltaria.
É difícil explicar. Às vezes, estou ali, dormindo tranquila, com o som do ventilador girando e o cheiro do nosso bebê ainda preso nos lençóis. Mas, de repente, é como se o ar mudasse. E eu estou de novo frente a frente com Rodrigo se aproximando, transtornado. A arma em punho. O disparo. O sangue. O desespero.
Acordo sempre da mesma forma: ofegante, o coração disparado e as mãos suadas. Algumas vezes, com um grito preso na garganta. Outras, chorando baixinho pra não acordar Thiago. Mas ele sempre acorda. Mesmo quando não diz nada, ele sente. Ele percebe.
Essa noite foi mais uma dessas.
Abri os olhos sentindo o peito apertado, os olhos marejados. E ali estava ele, o homem que mudou a minha história. Que segurou a minha