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Capítulo 6 – Histórias e Outras Tentações

THIAGO

O clima entre a gente tava esquisito.

Não ruim, só… estranho. Difícil explicar.

A Mirela não era mais criança. Essa parte era o que mais me confundia. Porque minha cabeça ainda lembrava dela de maria-chiquinha correndo com a boneca no braço, pedindo picolé e me chamando de "tio Thi". Mas agora, ali no meu sofá, com aquele shortinho que mal cobria as coxas e o cabelo solto escorrendo nas costas, não dava pra fingir que ela era a mesma menininha.

Não era. Longe disso.

Agora era uma mulher. Uma mulher linda. De parar o trânsito. E por mais errado que isso soe — e sei que soa — ela mexia comigo.

A gente tava sentado no sofá depois de comer. Pedi comida japonesa, que ela devorou como se fosse a última refeição da vida. E depois, entre um gole de refrigerante e uma risada abafada, ela olhou pra mim com aqueles olhos azuis que pareciam pedir mais do que palavras.

— Tio, me conta uma história? Igual quando eu era criança…

Soltei uma risada curta, meio sem jeito.

— Ih, Mirela… nem lembro mais dessas histórias. Faz um tempão. A última vez que contei uma dessas tu devia ter o quê? Uns seis anos?

Ela deu de ombros, fazendo bico. Um bico bonito, provocante.

— Por favor, tio… só uma.

Ela ajeitou as pernas no sofá, se aproximando, colocando a cabeça no meu ombro como fazia quando era pequena. Mas agora o toque era diferente. Não sei explicar. O cheiro dela me atingiu, doce, fresco, com um perfume que grudava no nariz.

Puxei as pernas pro sofá, sentei de perna cruzada igual um tiozão mesmo e suspirei, tentando achar na memória alguma história besta.

— Tá bom. Mas você promete que não vai rir se ficar ruim, hein?

Ela riu baixinho, o que só me fez sorrir também. Aquela gargalhada gostosa que ela dava… Deus me perdoe, mas me dava vontade de morder o canto da boca dela.

Comecei a contar a história do macaquinho que queria fugir do circo — lembro que ela adorava essa quando era pequena. Fui inventando os pedaços que faltavam, só pra fazer graça, e ela ria, ria de verdade, se jogando em mim, com a mão encostando no meu peito de um jeito que parecia sem querer... mas será que era?

A verdade é que cada vez que ela se encostava mais, eu sentia meu corpo reagir. Era só uma história, mas o jeito que ela me olhava, de baixo pra cima, os olhos brilhando e a boca entreaberta, parecia pedir mais que um final feliz pro macaquinho.

Eu sabia que era errado pensar assim.

Era minha sobrinha… tecnicamente. Mas ela não me via como tio, isso tava ficando claro. E pior: eu também já não conseguia fingir que via ela só como aquela menininha que um dia sentou no meu colo pra ver desenho.

Ela tava toda jogada no sofá agora, com a perna encostando na minha, aquele toque quente e macio. E sem querer — ou querendo muito — ela deitou a cabeça na minha coxa.

— Tô com sono, tio — murmurou, os cílios quase fechando, a respiração calma.

Meu corpo inteiro enrijeceu. A sensação dela ali, tão perto, o calor da pele dela passando pela minha calça, o cheiro… aquilo tudo era tortura.

Tentei manter a cabeça no lugar, juro. Mas a minha mão foi parar no cabelo dela, afagando devagar, como um carinho inocente. Só que nada naquela noite era inocente.

— Tio…

— Hm?

— Cê acha que eu mudei muito?

Engoli seco.

— Bastante. você virou mulher, Mirela. Não é mais a menininha que queria brincar com meu cabelo.

Ela levantou o rosto devagar, me encarando. Os olhos azuis pareciam cheios de segredos.

— Isso é ruim?

Balancei a cabeça, tentando fugir da armadilha que ela armava com uma simples pergunta.

— Não. Só… perigoso.

Ela mordeu o lábio inferior, como se saboreasse aquela resposta. Eu tava ferrado. Sabia disso. Mas não conseguia me afastar.

— Perigoso por quê, tio?

Dei um riso sem humor, passando a mão pelo rosto.

— Porque você cresceu, tá linda, cheia de atitude…

Silêncio.

Só o som do ar-condicionado e o coração batendo forte — o meu e, tenho certeza, o dela também.

Ela deitou de novo, dessa vez mais próxima, o rosto encostando no meu abdômen, os dedos traçando círculos pequenos na costura da camisa.

— Então não olha pra mim como se fosse…

— Como se fosse o quê?

Ela levantou o olhar, atrevida.

— Como se fosse pecado.

Puxei o ar com força, me afastando devagar. Fui até a cozinha pegar um copo d’água, tentando esfriar o sangue que já tava fervendo.

Precisei de uns bons minutos pra voltar e, quando voltei, ela já tava dormindo no sofá, encolhida, com a mão segurando o travesseiro e os cabelos bagunçados.

Fiquei parado ali, olhando. A Mirela era problema. E eu sabia que, se continuasse daquele jeito… uma hora eu não ia conseguir parar.

Mas o pior de tudo?

Eu já nem queria.

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