Quando Leon despertou naquela manhã, a luz suave do sol banhava o quarto, revelando Jéssica em seus braços. Dormindo profundamente, com o rosto sereno e os cabelos espalhados pelo travesseiro. A visão dela ali, vulnerável e tão sua, atingiu Leon com uma força avassaladora. O ciúme e a frustração da noite anterior se dissiparam, dando lugar a uma certeza inabalável: ele não a deixaria ir novamente. Havia cometido erros no passado, erros que ele agora estava determinado a corrigir. Traçou um plano rápido em sua mente: iria abordá-la com calma, apaziguar a raiva que sabia que ela sentiria ao reconhecê-lo, e depois, conquistá-la de novo. Só então, e não antes, ele contaria a verdade sobre si, sobre sua família, os Hawksmor, e o porquê de ter desaparecido sem explicações.
Cheio de uma determinação renovada, Leon foi para a cozinha preparar o café da manhã. Queria que ela despertasse com o aroma familiar de café fresco, com a sensação de estar em casa, e não no apartamento de um estranho. Estava relaxado e confortável, o corpo ainda sentindo os resquícios da noite intensa, os cabelos molhados após um banho rápido. Virou-se, um sorriso gentil nos lábios, com a xícara de café estendida. _Bom dia, bela adormecida, disse ele, a voz rouca da manhã. Mas Jéssica não reagiu como ele esperava. Sua expressão era estranha, uma mistura de confusão, choque e algo que parecia ser... raiva. Ela estava parada, paralisada, os olhos fixos nele, mas sem vê-lo de verdade. Um medo frio se espalhou pelo peito de Leon. A ansiedade começou a roer suas entranhas. Ele havia imaginado mil cenários para esse reencontro, mas não esse silêncio perturbador. A hesitação dela, a falta de qualquer reação, era um sinal alarmante. Ele tentou novamente. _ Jess, eu sei que... que isso é uma surpresa. A noite passada... eu sei que você não me reconheceu na balada. Eu... Ele engoliu em seco, tentando encontrar as palavras certas, mas elas pareciam presas em sua garganta. Queria explicar tudo: a balada, a forma como a encontrou, a saudade que o consumia, o porquê de ter ido embora da primeira vez. Mas a pressão daquele olhar gélido, a urgência de consertar tudo de uma vez, fez com que as palavras o abandonassem. Ele não conseguia falar tudo. De repente, a paralisia de Jéssica deu lugar a uma explosão. Seus olhos castanhos, antes opacos, agora ardiam em fúria. Ela pegou a xícara de café da mão estendida de Leon e, com um grito de frustração, atirou o líquido fumegante contra ele. O café respingou em sua camiseta, mas o impacto emocional foi muito maior. _ Você! Como pôde?!, ela gritou, a voz embargada pela raiva e pela humilhação. A confusão se instalou. No exato momento em que a xícara atingia a parede atrás de Leon, quebrando-se em pedaços, a campainha tocou. Jéssica aproveitou a deixa. Em um flash, ela correu para a porta, determinada a escapar daquele pesadelo que se repetia. Leon, ainda atordoado pela reação dela, tentou impedi-la, estendendo a mão. _ Jéssica, espere! Eu posso explicar! Mas era tarde demais. A porta se abriu para revelar Vanessa, uma mulher elegante e imponente, com um sorriso calculado e um olhar frio. Era a pretendente que a mãe de Leon estava incessantemente tentando forçá-lo a aceitar, a última coisa que ele precisava naquele momento de caos e revelações dolorosas. Vanessa parou no umbral da porta, um sorriso polido no rosto que não chegava aos olhos. Seus olhos varreram Jéssica, de sua roupa nova – que, apesar de simples, não era a que ela havia chegado – até o cabelo ligeiramente despenteado, e depois para Leon, com a mancha de café na camisa. Um brilho rápido de desdém cruzou seu olhar, mas foi logo substituído pela expressão de jovem rica e dócil, impecavelmente controlada e adequada aos padrões dos Hawksmor. _ Oh, meu querido! Que surpresa agradável encontrar... companhia tão cedo. Vanessa disse, a voz suave como seda, mas com uma pontada de veneno mal disfarçado. Seus olhos se fixaram em Jéssica, um sorriso condescendente adornando seus lábios. _Acredito que sua amiga não está familiarizada com as formalidades de uma casa como esta. Talvez seja melhor ela se retirar agora, antes que cause um mal-entendido maior. A insinuação era clara: Jéssica era uma intrusa, uma qualquer sem valor. Leon se preparou para intervir, mas Jéssica foi mais rápida. O choque e a raiva deram lugar a uma frieza cortante, um brilho perigoso em seus olhos castanhos. _ Mal-entendido?, Jéssica retrucou, a voz baixa, mas carregada de uma fúria contida que fez Vanessa vacilar. _O único mal-entendido aqui é a sua suposição, querida. Meu interesse nele era puramente recreativo. Uma noite de distração, nada mais. Ela lançou um olhar glacial para Leon, o desprezo evidente. _Agora, você pode ficar com ele para o que quiser. Eu já o usei o suficiente. Com essas palavras, Jéssica passou por Vanessa como um raio, a cabeça erguida, a dignidade intacta apesar da dor latente em seus olhos. Ela desceu o corredor em direção ao elevador sem olhar para trás, deixando para trás o rastro de sua fúria e o eco de suas palavras afiadas. Vanessa ficou atônita, a boca entreaberta, o sorriso perfeito desfeito pela incredulidade. Demorou alguns segundos para se recompor. Voltou-se para Leon, tentando recuperar sua postura doce e complacente. _ Leon, ela começou, estendendo a mão para tocá-lo. A expressão de Leon era de um gelo cortante. Seus olhos azuis, antes carregados de desespero e ansiedade, agora eram poços de frieza e frustração. Ele a interceptou com um olhar que a fez recuar. _ Não, ele disse, a voz rouca e sem emoção. _Saia. Agora. Não houve chance para mais palavras ou explicações. Ele a rejeitou de novo. Leon fechou a porta na cara de Vanessa com um baque seco, virando-se para o apartamento vazio, o silêncio mais ensurdecedor do que qualquer grito. A mancha de café em sua camisa parecia queimar, um lembrete físico da explosão que acabara de presenciar. Poucos minutos depois, o telefone tocou. Era a voz doce, mas firme, de sua mãe. _ Leon, meu filho. Onde você está? Estamos esperando para o almoço. Leon fechou os olhos, sentindo o peso de um mundo que parecia desmoronar ao seu redor, enquanto as obrigações familiares o puxavam de volta à sua realidade implacável.