Leon chegou à imponente mansão dos Hawksmoor, uma construção clássica de pedra com vastos jardins que se estendiam até onde a vista alcançava. Apesar da manhã caótica, ele havia se apressado para trocar de roupa, optando por um look básico e confortável.

Assim que entrou, foi abordado por Patrick, seu irmão mais velho e CEO da HS Company. Patrick, com seus próprios olhos azuis penetrantes e uma postura mais formal, colocou a mão no ombro de Leon.

_ Bom trabalho ontem à noite, irmão. O Velasquez está mais do que satisfeito. O contrato de expansão está garantido.

Havia um raro lampejo de aprovação no olhar de Patrick, um reconhecimento que Leon raramente recebia.

A conversa foi abruptamente interrompida pela chegada de sua mãe, a matriarca Sra. Hawksmoor, de porte elegante, com um coque impecável e um olhar frio e calculista que parecia avaliar cada movimento ao seu redor. Seus olhos azuis, embora semelhantes aos dos filhos, carregavam uma dureza que os diferenciava.

_ Leon, ela começou, a voz sem um pingo de calor, seu comportamento com Vanessa esta manhã foi inaceitável. Descupe-se adequadamente com ela.

Sem dar-lhe a chance de responder, ela fez um gesto imperioso em direção à sala de jantar.

_ Vamos. Sentem-se. O almoço está servido.

Aguardando na mesa estava ela, Vanessa Count, com olhos ansiosos e falsamente dóceis, sorriso calculado.

_ Olá senhorita Count, não sabia que estaria conosco.

Leon apontou com a voz caindo alguns graus. Então, Vanessa se dirigindo a ele com uma timidez fingida.

_ Bom...sua mãe me pediu para trazer alguns documentos do jantar beneficente da próxima semana, e como nos desencontramos... hoje de manhã...ela fez uma pausa, lembrando-o de suas ações. A senhora Hawksmoor me fez ficar para o almoço de dizer um "olá ".

_ Acho que já disse mais do que um "olá".

Patrick apontou. Vanessa se encolheu, não gostava particularmente dele, era mais velho e tinha uma expressão de quem sabe de tudo, mas sorriu docemente dissimulando o comentário.

_Vamos comer agora, ordenou a senhora da casa.

A mesa de jantar estava posta com uma louça de porcelana altamente requintada, cristais lapidados e talheres de prata que brilhavam sob a luz. O almoço transcorria em um silêncio tenso, apenas quebrado pelo tilintar discreto dos talheres e pelos comentários pontuais da Sra. Hawksmoor com a Senhorita Count, sobre o clima ou os negócios.

De tempos em tempos fazia comentários para Leon sobre Vanessa, enaltecendo seus feitos, tudo para fazer eles interagir. Vanessa sorria lisonjeada, mas Leon não dava a menor atenção ao diálogo, respondia monossílabos como sempre, não era a primeira tentativa da Sra. Hawksmoor. Eleanor Hawksmoor era conhecida por ser implacável ao impor suas vontades.

No meio da refeição, ela pousou o guardanapo de linho sobre a mesa e olhou diretamente para Leon, uma expressão de decisão final em seu rosto.

_ Acho que está decidido então. O noivado de Leon com Vanessa será marcado para o próximo mês.

Leon sentiu o sangue gelar nas veias. Ele já esperava a pressão, mas não um anúncio tão súbito e definitivo. Vanessa abriu um sorriso de vitória.

_ Vanessa é uma jovem de excelente linhagem, filha de uma amiga próxima, faço muita questão nessa união, com uma educação impecável e o comportamento adequado para uma Hawksmor.

A cada palavra, a frustração de Leon crescia, borbulhando como um vulcão prestes a explodir. "Não é sobre a empresa", ele pensou, a voz de Jéssica ecoando em sua mente: "Eu já o usei o suficiente." O desdém, a forma como sua mãe descartava seus sentimentos, sua vida pessoal, como se tudo fosse uma negociação, era insuportável. A menção ao casamento com Vanessa, que ele acabara de expulsar de seu apartamento, era a gota d'água.

_ Não, Leon declarou, sua voz baixa no início, mas crescendo em volume e intensidade.

_ Dessa vez, não.

Ele se levantou abruptamente da cadeira, o ruído arranhando o silêncio. Seus olhos azuis, geralmente contidos, agora queimavam com uma fúria incontrolável.

_ Eu não vou obedecer a essa ordem. Não vou ceder a mais um de seus arranjos calculados!"

Ele olhou para Patrick, depois para sua mãe, ignorando completamente Vanessa, as palavras jorrando como uma torrente.

_ Passei anos da minha vida sacrificando tudo por essa empresa, por essa família. Suportei suas exigências, suas manipulações. Fui para o exterior para 'aprender' o que você queria, voltei e ralei para fechar negócios impossíveis! Eu fiz o que tinha que fazer para a HS! E agora, você quer ditar com quem eu caso como se eu fosse uma peça em seu jogo de xadrez social?

O rosto de sua mãe endureceu, mas Leon não deu a ela a chance de falar.

_ Chega. Eu não vou casar com a Vanessa. E se você insistir nisso, ele acrescentou, a voz ecoando pela sala de jantar requintada, eu vou embora. E não volto mais.

A Sra. Hawksmor soltou uma risada curta e fria, uma risada que não continha humor.

_ Criança ingrata!, ela disparou, o rosto contorcido pela fúria.

_ Você ousa me ameaçar? Você tem uma posição que muitos dariam a vida para ter! Um nome, uma reputação, uma empresa sólida!.E você me fala de ir embora? Como se fosse um garoto rebelde fugindo de casa!

Leon, no entanto, não recuou. A voz de sua mãe, antes capaz de controlá-lo com um simples tom, agora apenas alimentava sua própria revolta. Seus punhos se cerraram, e seus olhos azuis faiscaram de indignação.

_ Eu sou ingrato?!, ele rebateu, as palavras saindo cortantes.

_ Eu não sou uma ferramenta para você usar quando quer. Eu disse e repito: se você não desistir desse casamento, dessa palhaçada com Vanessa, pode deixar de me considerar seu filho. Eu não vou me casar com ela. E não vou mais aceitar suas ordens!

Saindo do torpor Vanessa com a voz vacilante, tentou acalmar os ânimos.

_ Por favor não briguem, acho que Leon só está chateado, não leve a sério Sra Hawksmoor.

_ Basta! Isso é ridículo!

Com essas palavras, Leon se virou abruptamente e saiu da sala de jantar, os passos firmes e decididos, sem olhar para trás. A porta principal da mansão bateu com um estrondo que ecoou por todo o silêncio da casa.

A Sra. Hawksmor, com o rosto vermelho de raiva e humilhação, virou-se para Patrick, que observava a cena com sua habitual impassibilidade.

_ Você viu, Patrick?! Ele é um ingrato! Depois de tudo o que fiz por ele, como ele pôde me tratar assim? Eu só estou pensando no bem dele!

_ Acalme-se Sra. Hawksmoor, não faz bem ficar chateada. Leon é um bom filho, não vai decepcioná-la.

Vanessa tentava consolar a senhora mais velha. com uma voz suave, mas venenosa.

_ Você e Patrick são minhas testemunhas, não fiz bada demais.

Sua voz tremia, com uma mistura de indignação e uma teatralidade que buscava a validação do filho mais velho. Ela tentava se justificar, como se fosse a vítima de um ataque injusto.

Patrick, que mantivera a calma durante toda a explosão, agora falou, sua voz baixa e controlada, mas com uma ameaça velada que apenas a mãe seria capaz de identificar.

_ Mãe, é melhor você deixar isso para lá.

Seus olhos azuis, idênticos aos de Leon, mas sem a paixão que os marcava, fixaram-se nela.

_ Talvez seja melhor você ir também Vanessa, não precisa estar com a sua família em um dia como esse?

Olhando para a mãe deu um último conselho.

_ Leon é um ativo valioso. Ele é brilhante, e você sabe disso. E, por mais que a aliança com a família de Vanessa seja interessante, você sabe o que acontece quando Leon toma uma decisão. Se ele for embora, não há nada que possamos fazer para trazê-lo de volta, e a perda para a empresa e para a nossa posição seria incalculável.

A frieza de Patrick era mais perigosa que a fúria da mãe, pois era calculada.