Recomeçar

A luz da manhã filtrava-se pelas frestas das cortinas pesadas, pintando o quarto com tons suaves de cinza e azul. Jéssica se espreguiçou, o corpo dolorido, mas estranhamente satisfeito. Um sorriso preguiçoso despontou em seus lábios, lembrando-se da intensidade da noite que havia passado. Mas, ao abrir os olhos, o sorriso se desfez. O quarto não era o seu. As paredes eram de uma cor neutra e sofisticada, os móveis de design elegante e minimalista. Uma ansiedade súbita a invadiu. Onde estava? Com quem? As memórias da balada eram fragmentadas, como sonhos distorcidos. A dança, o flerte, a ânsia de esquecer... E depois, o carro, os beijos ardentes no banco de trás. Mas com quem? A imagem do rosto dele na penumbra estava borrada. Levantou-se, sentindo o ar frio da manhã em sua pele exposta, e foi até o banheiro. Era espaçoso e moderno, com azulejos de mármore e uma ducha com cromoterapia. Fez sua higiene, a água gelada ajudando a clarear a mente. Quando voltou para o quarto, suas roupas da noite anterior não estavam lá. Em vez disso, sobre a cama, havia uma pilha de roupas femininas novas: uma calça de moletom macia, uma camiseta de algodão e até mesmo peças íntimas, tudo impecavelmente dobrado. E, para sua surpresa, eram do seu número. Uma nova onda de confusão a atingiu. Como ele sabia o seu número? Quem era aquele homem que parecia saber tanto sobre ela, mesmo que ela não se lembrasse dele? A situação era bizarra e intrigante. Vestiu as roupas novas, que caíram perfeitamente, e saiu do quarto. O apartamento era um espetáculo de bom gosto. Cada detalhe exalava uma sobriedade elegante e discreta, sem ser ostentoso. A decoração era confortável, com toques de arte moderna e grandes janelas que ofereciam uma vista deslumbrante da cidade. Era um lugar que falava de um morador com refinamento e poder, mas sem exibicionismo. Jéssica caminhou pelos corredores, o coração batendo mais forte a cada passo. Quando chegou à sala, que se conjugava harmoniosamente com uma cozinha gourmet impecável, seu coração deu um salto. Lá estava ele. De costas para ela, preparando o café da manhã, o corpo atlético envolto em uma camiseta simples e folgada. Ele era alto e esguio, mas com ombros largos e músculos bem definidos. Seus cabelos escuros ainda estavam molhados, úmidos do banho, e alguns fios rebeldes caíam sobre a nuca. Ele se movia com uma fluidez relaxada e confortável, demonstrando familiaridade com o ambiente. O aroma de café fresco e pão torrado preenchia o ar, e a cena era de uma domesticidade surpreendente para alguém que ela mal conseguia lembrar. Era o homem da noite anterior. E, embora a mente dela lutasse para fazer a conexão, cada célula de seu corpo começava a reconhecê-lo.

O aroma do café recém-passado e o som suave da torradeira trouxeram à tona uma memória vívida, como um flash inesperado. Jéssica se viu de volta à sua própria cozinha nos temos da faculdade, a luz da manhã filtrando-se, e Leo ao seu lado. Ele, com o cabelo bagunçado de quem acabara de acordar, sorrindo enquanto passava manteiga no pão para ela. Era um ritual simples, mas repleto de uma intimidade que a fazia suspirar. A ilusão de uma vida simples e cheia de calor, o sonho de viverem juntos pra sempre, talvez ter uma família só sua... O riso dele, o jeito como ele a olhava enquanto preparavam o café juntos... Jéssica respirou fundo tentando afastar essas memórias dolorosas.

A ansiedade começou a crescer, um nó apertando em seu estômago. A postura daquele homem de costas, o cabelo molhado, a maneira como se movia – tudo era inquietantemente familiar. Era como se seu corpo o reconhecesse antes que sua mente pudesse processar. Uma pontada de pânico a atingiu. Não, não podia ser. Ela havia se esforçado tanto para virar a página. O "estranho" se virou, um sorriso relaxado em seu rosto enquanto ele estendia uma xícara de café fumegante.

_ Bom dia, bela adormecida, disse ele, a voz rouca da manhã.

"Droga!", Jéssica congelou no lugar. O sorriso relaxado desmoronou em seu rosto enquanto seus olhos castanhos encontravam os olhos azuis que ela tentava desesperadamente esquecer. Era ele. Não era um estranho, não era um desconhecido. Era Leo. Uma onda de frustração e raiva a paralisou. Como ela pôde ser tão estúpida? Cometer o mesmo erro de novo, e de novo, e de novo! Aquele sentimento de familiaridade na pista de dança, o calor daquelas mãos, a conexão avassaladora no carro e na cama… Era ele o tempo todo. E ela havia se entregado a ele, novamente, desesperada para esquecer justamente ele.

As memórias se atropelaram em sua mente com uma clareza brutal. A última vez. Ele havia ido embora sem explicações, reaparecido como um fantasma, feito amor com ela, e ainda assim insistido em não se explicar. Ela o havia expulsado de seu quarto, jurando a si mesma que o deixaria para trás, que seguiria em frente, que ele seria apenas uma lembrança dolorosa. E agora, ele estava ali, parado em sua frente, oferecendo-lhe café como se nada tivesse acontecido, como se a vida pudesse simplesmente recomeçar onde eles pararam. Paralisada por esses pensamentos, Jéssica não reagiu. A xícara de café tremia na mão estendida de Leo, e o sorriso gentil em seu rosto começou a vacilar, substituído por uma expressão de confusão e, talvez, um lampejo de preocupação.

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