capitulo 4

Inácio Hall

O inferno do ciúme era uma chama que me consumia. De onde eu estava, dentro da escuridão do carro, meus olhos fixavam em Amélia. Ela ria, uma risada cristalina que atravessava a música abafada da boate, enquanto conversava animadamente com aquele... empregado de bar. Um merdinha qualquer, com um sorriso largo demais e as mãos perto demais dela. Minha mandíbula travava, e a paciência, essa virtude que eu mal possuía, esgotava-se em segundos.

Por mais que eu tentasse, não conseguia controlar a fúria que se acumulava em meu peito. Antes que a razão pudesse intervir, minha porta já estava aberta. Atirei-me para fora do carro, meus passos pesados e decididos, e em questão de instantes, já estava na entrada daquele inferninho. Agi por puro instinto possessivo, arrastando-a pelo braço para fora daquele lugar fétido, ignorando os olhares curiosos.

— O que pensa que está fazendo, seu babaca?! — A voz de Amélia explodiu, furiosa, assim que a tiramos da música alta. Ela tentou soltar o braço, e seus olhos, mesmo nublados pela bebida, me fuzilavam.

— Eu que te pergunto, Amélia! Que diabo você estava fazendo, se esfregando com aquele... insignificante?! — Minha voz soou mais alta do que eu pretendia, reverberando na rua pouco movimentada.

— Não é da sua conta, Inácio! Me deixe em paz! — Ela gritou de volta, puxando o braço e tentando passar por mim.

Eu a puxei de volta com força, virando-a para que ficasse de frente para mim. Era só o que me faltava: ela com raiva. Eu deveria estar puto aqui, não ela.

— Me solta! — A ordem saiu entre dentes.

— Está com raiva, Amélia? Queria estar com aquele monte de merda do barman? — perguntei, segurando-a firmemente pelos braços, sentindo o calor da sua pele.

— Sim, e daí?! — Ela ergueu a sobrancelha, desafiadora, sua fúria ainda intocada.

Meu corpo tencionou. Eu estava prestes a fazer algo que me arrependeria depois, algo que poderia comprometer todo o meu plano. Com um bufo de frustração, soltei-a e me virei, voltando para o carro. Não era a hora. Ainda não.

Voltei para o carro, o motor ainda ligado, observando. O plano estava montado há meses. Já havia ajeitado tudo, todos os detalhes, só faltava a assinatura dela. E hoje, hoje seria o dia em que ela, Amélia Moreira, pertenceria finalmente a mim.

Vi quando ela cambaleou para fora da boate, o riso leve e descompromissado ainda em seus lábios. O merdinha do barman, Fred, pelo que Xz havia me informado, vinha logo atrás, o sorriso estúpido no rosto. Eles conversaram por um momento, e então, para o meu desgosto, ela subiu na garupa daquela moto barulhenta com ele.

Minhas mãos cerraram o volante. Isso não. Esse era um risco que eu não podia correr. Em um movimento brusco, acelerei o carro, fechando a moto. A buzina soou alta, estridente. O barman freou bruscamente, a moto derrapou perigosamente, e eu parei o carro de lado, bloqueando a rua.

— Ficou louco, mano?! — o cara gritou, a voz trêmula de susto, enquanto tentava estabilizar a moto.

Baixei o vidro elétrico, a voz grave e fria.

— Amélia, vem comigo!

O barman, Fred, olhou para ela, confuso.

— Ei, você conhece esse louco?

— Não vou falar de novo, Amélia. Venha, antes que alguém se machuque — A ameça implícita pairava no ar. Para reforçar, levantei a mão e apontei a minha arma, uma Glock 19, para o peito do barman.

Os olhos dele se arregalaram em pânico.

— Olha cara, não estou para confusão! Deixe a gente ir! — implorou, a voz tremendo, as mãos erguidas em sinal de rendição.

Soltei uma gargalhada curta e fria. Neguei com a cabeça. Patético.

— Quem... quem é você? — Amélia finalmente conseguiu balbuciar, os olhos arregalados de medo e confusão, alternando entre mim e a arma.

Olhei para ela, sentindo uma leve pontada de irritação por ela não me reconhecer. Mas logo a ignorei. Bêbada do jeito que estava, e com o que Xz havia colocado na bebida dela, provavelmente nem se lembrava do próprio nome. Ótimo. Isso era perfeito para o que eu queria fazer.

— Não importa. Apenas venha — falei, minha voz séria, sem espaço para negociações.

Eles ficaram me encarando, paralisados, como se estivessem pensando no que fazer.

— Não corram — avisei, a voz um sussurro ameaçador. — Será uma estupidez. — Para enfatizar, destravei a arma, o clique audível e sinistro no silêncio da noite.

— Por favor, deixe a gente ir! Prometo que não vamos falar para ninguém o que aconteceu! — o cara implorava, quase chorando.

— Amélia! — chamei, a voz um ultimato.

Ela olhou para mim, os olhos grandes e cheios de desespero. Pela indecisão dela, por aquela hesitação que me irritava profundamente, levantei a arma. Sem pensar duas vezes, ativei o silenciador e atirei no barman, bem na perna.

— Ahh... — um grito abafado de dor escapou dele, enquanto ele caía da moto.

— Ainda vai ficar aí parada?! — gritei para Amélia, que agora estava em choque.

— O que você fez?! Fred! Calma, eu vou chamar uma ambulância! — Ela pegou o celular do bolso, as mãos tremendo incontrolavelmente.

— Quer que eu mate ele, Amélia? Quer que ele morra aqui, agora, por sua causa? — perguntei, a voz fria como gelo, apontando a arma para a cabeça do barman, que gemia no chão.

— Você ficou louco?! Como pôde brincar com uma vida assim?! — Ela gritou, a raiva finalmente superando o choque, e partiu para cima de mim como um furacão.

Caímos os dois no chão, com ela me socando e arranhando. A arma escorregou da minha mão, caindo perto do pneu do carro.

— Fala sério, chefa. Vamos logo com isso. Estou com fome — A voz arrastada de Xz, meu motorista e homem de confiança, surgiu ao meu lado. Ele acabara de descer do carro e, com uma agilidade surpreendente, aplicou um sedativo no pescoço de Amélia.

Ela se debateu por um segundo, os músculos relaxando, e seus olhos rolaram para trás enquanto ela desmaiava em meus braços.

— Cala a boca e a coloque no carro! — ordenei, levantando-me e indo pegar a arma de volta, que estava suja de terra.

Xz pegou Amélia, que agora parecia um boneco de pano, e a colocou delicadamente no banco de trás do carro.

— Ei! — o merdinha do barman me chamou, a voz fraca, enquanto tentava estancar o sangue da perna. — E eu?

Olhei para ele, um sorriso cruel nos lábios.

— Você tem duas pernas. — Dei uma risada sem humor. — Ora, se vire! — Dei partida no carro, deixando-o para trás.

— Para onde vamos, chefa? — perguntou Xz, do banco do passageiro.

— Quem está dirigindo o carro, Xz? — perguntei, a voz irritada.

— A senhora!

— Então para que quer saber? Faça apenas o seu trabalho e pare de me chamar de chefa. É irritante.

— Bom, para eu fazer o meu trabalho, eu preciso saber o que fazer. Você ainda não me passou as instruções da fase dois.

Sabe aquele momento em que a pessoa faz de tudo para te irritar, e você tem vontade de pegá-la pelo pescoço? Eu estava a ponto de fazer isso com Xz.

— Te mandei as instruções no e-mail, seu imbecil! O que tanto faz na internet que não trabalha?! — questionei, exasperado.

— Ora, fofocando a vida dos outros, sabe como é — disse ele, com a voz preguiçosa.

— Eu te pago para ficar fuçando a vida dos outros, por acaso?

— Paga! — respondeu ele, com uma sinceridade irritante.

— Cala a boca, Xz! Apenas cala a boca! — falei, já com a voz rosnada.

Dirigi até meu apartamento, em silêncio forçado. Levei Amélia no colo para dentro, ela ainda inconsciente. Conforme subia as escadas, ela começou a se mexer, e então seus olhos se abriram.

— Onde estou? Quem é você? — perguntou, a voz confusa, mas depois pareceu lembrar de algo e sorriu.

— Gatinho! É você? Ué, por que está de máscara? — perguntou, tateando meu rosto.

— Por acaso acha que sou o idiota da boate? — perguntei, começando a ficar nervoso com a confusão dela.

— Ué, não é você? Não tem problema, você também é gatinho — disse, rindo.

Ok, ela estava muito bêbada e também drogada. Eu iria matar Xz mais tarde.

— Sim, sou eu, o gatinho. Vem, vamos beber um pouco — menti, puxando-a para o sofá, onde já havia preparado as bebidas.

— Não sei se é uma boa ideia, gatinho. Estou muito bêbada.

Ao menos ela tinha um resquício de racionalidade. Mas eu precisava que ela assinasse o contrato.

Então, eu deveria fazê-la beber mais, só assim ela assinaria sem questionar.

— Que nada. Vê só, quantos dedos tem aqui? — Mostrei dois dedos para ela.

— Hum... cinco? — perguntou, sorrindo e semicerrando os olhos.

— Acertou! — menti, sorrindo de volta. — Vamos beber. — Servi duas taças de vinho, entregando uma a ela.

Quando percebi que ela estava bêbada o suficiente, fui pegar o contrato de casamento, que já estava sobre a mesa de centro.

— Aonde vai, gatinho? Já vamos para o quarto? — perguntou, com um sorriso sonolento, tentando me agarrar quando eu me afastei.

— Já volto! — falei, soltando-me dela com alguma dificuldade.

— Mel, minha florzinha. Assine aqui para mim! — pedi, oferecendo a caneta e o contrato.

— Vamos transar agora! — Ela soltou a frase, o sorriso travesso no rosto.

Engasguei com a minha própria saliva.

— Gatinho, você está bem? — perguntou, preocupada.

— O que disse? — perguntei, ainda desconcertado.

— Falei que quero transar, vamos? — insistiu, os olhos brilhando.

Acho que esqueci de como se respirar. Não acredito no que estava ouvindo. Essa mulher era louca. Onde já se viu transar com um desconhecido?!

— Primeiro, assine o papel — falei, tentando manter a voz séria.

— Se eu assinar, nós vamos transar? — perguntou, inclinando a cabeça.

— Se você assinar, faremos o que você quiser — falei, a promessa vazia em meus lábios.

— Ok! — Ela sorriu, um sorriso bobo. — Ei, gatinho, qual é o meu nome mesmo? — perguntou, olhando para mim.

Bufei de frustração.

— Amélia Moreira Cardoso — falei calmamente, fornecendo o nome completo que ela não usaria por muito tempo.

— Ah, é mesmo — sorriu, rabiscando a assinatura no contrato.

Finalmente, pensei comigo mesmo, sentindo um ar de triunfo. Amélia Moreira Hall.

— Gatinho, eu não estou bem, não! — Ela fez uma careta, pálida.

Antes que eu tivesse a oportunidade de perguntar, ela vomitou no meu tapete persa caríssimo.

— Fala sério — murmurei, pegando-a no colo, ignorando o cheiro de vômito.

— Agora vamos transar? — perguntou, animada, o rosto ainda molhado e pálido.

— A única coisa que vamos fazer agora é entrar no chuveiro, e depois você vai dormir — falei bem sério, caminhando em direção ao banheiro.

— Ah, não, gatinho — falou, desgostosa.

Apenas ignorei as suas frustrações e a coloquei debaixo do chuveiro, ligando a água fria.

Mais tarde, enquanto observava Amélia dormir tranquilamente em sua cama, peguei o celular.

— Já está tudo pronto? — falei, a voz baixa. — Nos vemos em duas horas. — Encerrei a ligação.

Eu levaria Amélia comigo para o Canadá. Agora não tinha mais jeito. Amélia Moreira Hall agora era, definitivamente, minha.

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