capitulo 5

Amélia Moreira

— Você acha mesmo que vou permitir isso, Amélia? Você é a minha mulher e vai entender isso de uma vez por todas! — Inácio vociferou, dando um passo em minha direção, o que fez meu sangue gelar.

Reagi por puro instinto. Corri para o banheiro, batendo a porta e girando a chave com um clique satisfatório. Pelo menos ali, ele não entraria.

— Mel! Abra essa porta agora! Estou falando com você! ABRA ESSA PORTA! — Ele bateu na madeira com força, o som reverberando pelo quarto.

— Vai embora! — gritei de volta, minha voz embargada.

— Não vou sair daqui até você abrir essa porta! —

ele parecia realmente irritado. — E sabe o que mais? Eu tenho a chave reserva. Vou pegar e entrar.

Um arrepio percorreu minha espinha. A chave reserva? Droga!

— Pois eu não vou sair! — falei, minha voz tremendo, mas tentando soar decidida.

— Vou entrar então! — A ameaça era clara.

— Não... eu... eu vou tomar banho agora, então saia! — a única coisa que me passou pela cabeça foi uma mentira esfarrapada, qualquer coisa para ganhar tempo.

Ele ficou em silêncio por um instante, como se estivesse ponderando. Ou rindo da minha cara, o que era mais provável.

— Mais uma razão para eu entrar, Amélia. Vou tomar banho com você — disse ele, a voz carregada de diversão, e tive certeza que ele estava rindo. Babaca.

— Se você der um passo, eu te mato, estou armada, tá?! — gritei de volta, agarrando o pote de shampoo com força, como se ele fosse uma arma mortal.

Ouvi sua gargalhada alta, um som irritante que ecoou pelo quarto. É claro que ele está rindo. Que tipo de arma o banheiro poderia ter, afinal? Na certa, está me achando doida. Problema dele. Ele que quis casar com uma.

— Ok! Ok! — A voz dele ainda continha um resquício de riso. — Vou deixá-la tomar seu banho. Te espero na cozinha.

Esperei até ter certeza de que seus passos se afastavam do quarto, até o som diminuir por completo. Só então, com a cautela de um ladrão, destranquei a porta e saí do banheiro, ainda com o pote de shampoo na mão.

— Então, Amélia, o que você vai fazer agora? — perguntei a mim mesma, a voz baixa. A situação estava mais difícil do que eu imaginava, tanto que eu já estava falando sozinha.

"A situação está difícil mesmo, hein? Está até falando sozinha", Susan, minha adorável consciência, resolveu aparecer, com sua voz sarcástica e irritante.

— Não estou falando sozinha, estou conversando com a minha outra personalidade — respondi, séria, olhando para o nada.

"Tem razão. O Nacho não sabe a loucura que fez ao se casar com a gente, não é? O nosso caso já é caso de internação. Não tem mais jeito", Susan continuou, com seu tom debochado.

— Vá à merda e desapareça! — falei, com a voz grossa, querendo que ela me deixasse em paz.

"Não posso. Sou a sua consciência, ou seja, você", ela retrucou, com a mesma voz calma e irritante.

— Argh! — surtei, levando as mãos à cabeça, frustrada comigo mesma.

De repente, um celular tocou, alto. Olhei na direção de onde vinha o barulho e, para meu desespero, vi Inácio parado na porta do quarto, o celular na mão. Droga. Será que ele me viu no meu momento menos maluca?

— O quê? — perguntei, tentando manter a pose de quem não estava surtando consigo mesma.

Ele me encarou, sem qualquer disfarce.

— Estava falando sozinha? — perguntou, um leve sorriso de escárnio nos lábios.

— Sim, e daí? Tenho todo o direito de debater comigo mesma. Normalize isso, querido! Faço muito isso, e se não gosta, guarde para você, pois a única opinião que importa é a minha — falei, firme, mesmo que estivesse morrendo de vergonha por dentro.

— Isso não faz sentido, Amélia. Como se debate consigo mesmo?

— Na minha cabeça faz todo o sentido, e é tudo que importa. Se discordar, discorde aí na sua. Agora, se me der licença, vou tomar café — falei, erguendo o queixo, e saí do quarto, deixando-o sozinho na porta.

— Mel... Mel... Mel, sua burra... Ai, que vergonha! — Desci as escadas resmungando, o rosto em brasa, mas com um certo orgulho por ter conseguido sair da situação de cabeça erguida.

Inácio Hall

Amélia saiu do quarto resmungando algo inaudível, mas o tom irritado era inconfundível. Fiquei parado na porta, observando-a desaparecer escada abaixo, um misto de confusão e irritação borbulhando em mim. Aquela mulher me tirava do sério com uma facilidade absurda.

Meu celular tocou, quebrando o silêncio. Xz.

— Fala — atendi, a voz mais ríspida do que eu pretendia.

— Chefinha, a Chefinha número dois saiu da casa! — A voz arrastada de Xz ecoou do outro lado da linha.

— Mas que merda, Xz! Por que não impediu?! — Minha irritação triplicou.

— Sou pago para fuçar a vida dos outros, não para servir de segurança pessoal da sua esposa, chefinha. — Ele estava se divertindo com a minha desgraça, eu podia sentir o sorriso em sua voz.

— Se eu te pego... — Comecei a ameaçar, minha mão já apertando o celular.

— Ui, bateu um calor agora, chefinho. Pode me pegar, até mesmo com força... — Ele respondeu com um gemido sugestivo, e eu me vi no limite.

Encerrei a ligação antes que eu perdesse a cabeça de vez. Aquele moleque era um inferno! Desci as escadas correndo, a cabeça girando. Como ela saiu tão rápido? Porra, essa casa é um labirinto, como ela achou a saída? Até eu, que moro aqui, me perco às vezes! A preocupação começou a roer minhas entranhas.

— Onde ela está?! — rosnei para um dos seguranças que encontrei na sala, o queixo travado.

— Eu não sei, senhor! — respondeu ele, de pé, quase em posição de sentido.

— Como assim não sabe?! Eu te pago para quê, desgraçado?! — questionei, a voz explodindo em frustração.

— O senhor mesmo disse que não queria ninguém atrás da senhora, que ela teria um período de... "adaptação", e que não era para sufocá-la — ele falou, a voz firme, sem vacilar.

Tive vontade de bater com a cabeça na parede. É claro que eu tinha dito isso! Meu próprio plano se voltando contra mim. Contive a fúria.

— Reúna-se com os outros. Mais tarde darei uma palavrinha com vocês. Agora, saia da minha frente que vou atrás da minha mulher! — Empurrei-o para o lado e saí correndo pela porta dos fundos.

Avistei Amélia sentada em um banco de pedra na praça central do condomínio. Ela parecia pequena, perdida, mas sua postura ainda exibia uma teimosia latente. Só então percebi que não havia motivo para tanta preocupação. Afinal, esse condomínio me pertencia, era meu território.

Só morava aqui quem trabalhava para mim, e todos sabiam quem ela era e que não deveriam se meter com a "minha mulher". Respirei aliviado. O controle ainda era meu.

Aproximei-me, o sangue correndo mais rápido nas veias.

— O que pensa que está fazendo, Amélia? — Sem esperar resposta, a puxei pelo braço, levantando-a do banco.

Ela se soltou com um puxão.

— Onde estamos? Esse lugar parece uma muralha! Tentei sair, mas não consegui, então me sentei aqui — disse ela, exasperada, olhando para os arredores impecáveis do condomínio.

Um sorriso de satisfação, mas também de possessividade, se espalhou pelo meu rosto.

— Você pode tentar o quanto quiser, Amélia, mas nunca vai conseguir se livrar de mim. — Minha voz soou mais séria e determinada do que eu pretendia.

Eu a queria, e a teria. Inclinei-me, e antes que ela pudesse reagir, beijei-a.

Senti meu rosto arder com o impacto do tapa. Um estalo seco ecoou no ar. Olhei para Amélia, incrédulo, enquanto ela me encarava irritada, os olhos faiscando.

— Posso saber por que me bateu? — perguntei, a voz controlada, mas a raiva começando a se solidificar em meu peito.

— Porque me beijou, seu imbecil! Se quiser levar outro, é só avisar, Inácio. Minha mão está coçando — ela respondeu, com um sorriso provocador, os olhos brilhando. A audácia dela era... irritante. E excitante.

— Sou seu marido, Amélia. Por que não posso te beijar? — A pergunta saiu mais como uma declaração.

— Será que vou ter que desenhar para você? Fala sério! — ela retrucou, bufou, e começou a andar, me deixando para trás.

A segui, alcançando-a e pegando sua mão com firmeza. Ela puxou-a de volta.

— Me larga! — ordenou.

— Vamos voltar para casa — disse, ignorando seu protesto, seu esforço inútil.

— Só vou voltar porque estou com fome — ela resmungou, mas me seguiu.

Ao entrar em casa, me deparei com Xz, descalço, comendo uma tigela de cereal no meu sofá e, para minha fúria, com os pés sobre a mesinha de centro de ébano polido.

— Mas que merda é essa, Xz?! — gritei, parando na frente dele.

— Chefinha! Já pegou a Chefinha número dois? — ele perguntou, com a boca cheia. Depois, virou-se para Amélia com um sorriso descarado. — Vim tomar café, e aí, Chefinha? Sou Felipe, mas pode me chamar como todos, de Xz, ao seu dispor.

— Cai fora, Xz! — rosnei, a paciência no limite.

— Qual é, Chefinha? Vai mesmo deixar o seu gostosão sem comer? — ele fez drama, com um bico.

— Se continuar falando assim, realmente vou te deixar sem uma coisa... — falei, a ameaça clara na voz, um aviso sobre o que aconteceria se ele continuasse a me irritar.

Ele riu, balançou a cabeça e voltou a sentar no sofá, enfiando mais cereal na boca. Pelo visto, eu havia perdido completamente a moral na minha própria casa.

— Fora! — ordenei, batendo o pé.

— Mas... — ele começou.

— Não vou falar duas vezes, Xz!

— Até mais, Chefinha! Aqui meu número. Qualquer coisa, me liga que eu venho te pegar — disse ele para Amélia, com uma piscadela. Fiz menção de ir até ele, mas o moleque, rápido como um raio, saiu correndo pela porta.

— Moleque do caralho — praguejei, massageando as têmporas. Olhei para Amélia, que observava a cena com uma mistura de choque e diversão. — Vamos tomar café.

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Não me diga que está com ciúme de uma criança, Inácio?

— Não é ciúme. Ele apenas me tira do sério, Amélia. E, por fim, não se deixe enganar pela carinha de bebê. A praga tem trinta e dois anos — falei, pegando minha xícara de café.

— Sério? Uau! Nem parece — ela comentou, sorrindo e aceitando a xícara que lhe ofereci.

— Ele gosta de garotos? — perguntou, e pelo seu olhar, pude ver que estava genuinamente curiosa.

— Já te disse. Não se deixe enganar pela aparência — comentei, tomando um gole do meu café, saboreando a amargura.

— O que quer dizer? — ela insistiu, o olhar inquisitivo.

— Apenas coma! — mandei, com um tom de voz que não aceitava mais perguntas.

— Não vai me contar?

— Não!

— Por que não? — ela insistiu novamente, com a teimosia típica.

— Porque não quero te falar! — respondi, irritado com a insistência.

— Babaca — ela resmungou, e, para minha surpresa, jogou um pedaço de pão em mim. Eu, com um reflexo rápido, consegui agarrá-lo com a boca antes que caísse.

— Delícia — pisquei para ela, sentindo um ar de vitória por ter pego o pão. — Bom, eu tenho que dar uma palavrinha com os seguranças agora. Aproveite o café da manhã. — Passei por ela, e antes que pudesse protestar, dei-lhe um selinho rápido nos lábios.

Da porta, consegui ouvi-la me xingar de "idiota". Soltei uma gargalhada enquanto saía da casa, pronto para ir atrás dos meus "tão competentes" seguranças.

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