Serafina Gmork
— Chegamos, senhorita. — A voz do motorista me faz abrir os olhos. — Vai ficar no portão mesmo?
— Sim. Muito obrigada!
Abro a porta e saio.
O caminho do portão até a imponente casa é muito bonito, natureza de ambos os lados, inclusive animais selvagens. Dá uns dez minutos andando. É bom para pensar.
O mordomo abre a porta. Ele não gosta nada de mim. Ninguém aqui gosta. Juro que não sei porque tenho que vir aqui uma vez por mês, como se fosse uma obrigação ser humilhada, só não consigo evitar.
— Senhor! Senhora! Eu... — Paraliso na entrada da sala de visitas quando vejo a cena mais improvável.
— Lucian? O que... — Nem sei o que perguntar. Estou vendo meu namorado no sofá com minha irmã sentada em seu colo e os braços dela ao redor do seu pescoço.
— Oi, Amorzinho! Estava aqui conversando com seus pais sobre amanhã.
— Com minha irmã em seu colo?
Meu coração aperta quando ela sorri e beija o rosto dele.
— Somos amigos, Fina. Vai implicar com isso?
Minha Deusa! Nem sei como responder a isso.
— Querida, senta no sofá. A Fina nunca teve amigos, não sabe o que é demonstrar carinho. — É a voz da minha mãe, demonstrando tédio, como se eu a deixasse exausta.
— Ai, Fina! Não sei o motivo desse ciúme. Amanhã eu me tornai sua Luna Alfa. Tenha mais respeito.
Eu não vou discutir com eles. Quem tem que me dar satisfação pela mentira é o Lucien, ele é meu namorado.
— Lucien é um dos homens mais poderosos da nossa alcateia. Não vá perder isso por ciúmes. — Meu pai comenta deixando o livro de capa preta de lado. — A família dele faz gosto do namoro de vocês e esse é o único motivo pelo qual ainda permitimos sua entrada nessa casa, garota ingrata. Saiba que se não o tiver na caçada, é melhor nem mesmo bater no portão.
Foi um erro vir aqui. É sempre um erro vir.
— Desculpe. — A palavra sai amarga da minha boca. Por mais que eu queira retrucar, só sai pedidos de desculpas, como se o meu existir fosse um erro.
Prendo as lágrimas em meus olhos.
Eles apenas me olham com superioridade.
Está na hora de cortar os laços. Nania está certa. Insistir em ser grata só está me ferindo.
— Tenho que ir agora. Nos vemos amanhã na caçada. — Me despeço e saio rapidamente da sala, sem esperar que digam mais palavras cruéis.
— Espera, Amorzinho! — Lucien me alcança descendo as escadas para fora e segura minha mão. — Te levo para casa.
O carro dele estava na frente da casa. Entrei tão distraída que nem notei.
— Por que mentiu, Lucien? Por que mentiu sobre onde estava?
— Queria ter uma conversa com seus pais sobre o nosso futuro, e sabia que você insistiria para vir junto. Era para ser uma surpresa para você. Meus pais nos deram a nossa primeira casa.
Sinceramente não entendo por que fazer segredo, mas hoje foi um dia daqueles. Estou cansada demais para discutir. Apenas entro no carro e deixo que me leve até em casa.
Quando chegamos, ele estaciona na frente do prédio e coloca a mão na minha coxa.
— Podia me convidar para subir, Amorzinho. Amanhã nos tornaremos ligados pelo poder do amor da deusa. Seremos um só. — Aperta minha coxa. — Podemos iniciar os trabalhos.
— Nossa! Que romântico! — desdenho. — Você sabia como eu era quando decidiu me pedir em namoro. Não me entregarei a ninguém antes da caçada.
— Tá bom! — Ele tira o meu cinto e me abraça. — Suba. É sua última noite longe dos meus braços.
Com um beijo demorado, me despeço dele e saio do carro.
Poderia ficar mais com ele, pedir para subir mesmo sem sexo, mas estou irritada, magoada e triste. Vê-lo no colo da minha irmã doeu muito. Amizade? Ninguém jamais aceitaria aquilo se fosse eu sentada no colo de um namorado dela.
— Voltou rápido. — Nania está deitada no sofá, sozinha. — Como foi?
Me jogo no sofá ao lado dela.
— Nada de novo. — Aperto sua mão, quase que para ter certeza que ela é real, que alguém que me ama existe. — E o Rick?
— Mandei ele ir para casa. Hoje vou dar colo pra uma certa amiga que é boa demais para esse mundo. — Sorrio. — Depois de uma rapidinha bem feita ele aceitou fácil. — Gargalho.
— Só você. Vou sentir sua falta durante o período que vai estar com seu lobo. Mas estou feliz por você. Já passou da hora de provar um sexo bem quente. Aposto que depois de trepar horrores nem vai ter tempo para aqueles vermes.
— Vou pedir algumas delicias pra nossa noite de meninas estão. — Pego o celular na bolsa e começo a escolher o que gostamos.
Conversamos sobre possíveis acontecimentos que podem ocorrer na caçada, fantasiamos mesmo. Rimos horrores. Quando as guloseimas chegaram eu já estava de pijama no sofá, vendo filmes sobre lobos e vampiros.
— É bom te ver rindo assim. Quando chegou do trabalho estava com cara de derrota.
— O imbecil do meu chefe chamou meu projeto de lixo e mandou refazer.
— O que? Que canalha! O que tem de lindo tem de babaca.
Rio do seu jeito ao falar. Nania diz que nosso chefe é o homem mais lindo que já pisou na terra. Não posso afirmar. Antes de encontrar a sua Luna Alfa a aparência dele é distorcida para nós, apenas humanos conseguem ver claramente seu rosto. A doida da minha amiga já até tirou foto escondido, sei lá como, mas ainda assim não consegui ver.
— Espero que nessa caçada ele se conecte com uma raposa.
Engasgo com a gargalhada e o refrigerante. Cinco minutos tossindo e rindo.
— Ele merece. E se ele não quiser meu projeto, sei que outros vão brigar por ele.
Abraço ela.
Não vão não. O único empresário que se importa tanto com a natureza é o meu chefe. Ninguém vai se interessar por um projeto como o que fiz exclusivamente para a construtora dele.
— Você não existe. — Seguro seu rosto e dou um beijo estalado em sua bochecha. — Se eu gostasse de fêmea, certamente te caçaria ferozmente.
É a vez dela gargalhar.
Acabamos dormindo na mesma cama, olhando as estrelas que ela colou no teto e sonhando com as possibilidades de amanhã.
Caçada ao meu amor abençoado pela deusa, ai vou eu.