Amélie Moreau
Um mês.
Havia se passado exatamente um mês desde o enterro de Clóvis. Um mês em que o mundo parecia girar devagar demais e, ao mesmo tempo, depressa demais.
Um mês em que vesti preto todos os dias, como se cada peça fosse uma lembrança viva — um símbolo do amor e da ausência.
Eu havia me adaptado à rotina, ou ao menos fingia bem. Corria todas as manhãs antes das aulas, estudava à tarde, encontrava Aurora no almoço e, à noite, voltava para casa. Sozinha.
Desde que ela se mudara para o alojamento da universidade, o apartamento parecia maior, frio, silencioso.
Eu compreendia — as aulas dela estavam intensas, os horários confusos. Mas era impossível não sentir o vazio.
Antes, quando morávamos juntas, tudo parecia leve. A cozinha vivia cheia de conversas, risadas, discussões sobre quem tinha queimado o macarrão. Agora, só o barulho da cafeteira me fazia companhia.
Suspirei.
Amanhecia. E, como em todos os dias desde o luto, vesti meu conjunto de corrida preto, prendi o cabelo