Amélie Moreau
Os dias de luto, segundo a frieza do atestado de óbito, haviam chegado ao fim.
Mas dentro de mim… o luto parecia apenas começar.
A cada amanhecer, eu ainda esperava ouvir a voz de Clóvis chamando Diego para o café, ou o som do riso leve de ambos ecoando pelo corredor. O silêncio da casa agora era um peso — um vazio tão profundo que até o som dos meus passos parecia indevido.
Aquela manhã em que eu e Aurora deveríamos voltar para a faculdade chegou cedo demais.
E eu não estava pronta.
Abri o guarda-roupa e encarei as roupas coloridas que costumava usar antes de tudo acontecer. Vestidos leves, casacos de tons pastéis, o perfume que Clóvis sempre elogiava… nada mais fazia sentido.
Peguei o vestido preto.
Simples, discreto, sem brilho algum.
Ele representava o que eu era agora.
Aurora entrou no quarto devagar, segurando duas xícaras de café.
— Você dormiu? — ela perguntou, sabendo a resposta.
— Um pouco. — menti, enquanto ajeitava o vestido.
Ela deixou o café sobre a cômoda