Capítulo 03.

Arthur estava imóvel. As palavras, o contrato, o destino desenhado por mãos que não eram as dele... tudo girava em sua mente como um redemoinho. Seu peito subia e descia com dificuldade, como se respirar fosse um esforço sobre-humano. A sala estava silenciosa, todos esperando sua reação. Mas Arthur apenas encarava o contrato, ainda aberto sobre a mesa. Seus punhos cerrados tremiam ao lado do corpo. Ele queria gritar, quebrar tudo, fugir dali com Sofia e nunca mais voltar. Mas não podia. Não agora.

— Isso... isso é prisão. — ele murmurou, sem encarar ninguém. — Vocês me prenderam sem grades. Com papéis.

— Não fale besteira, Arthur. — Marcelo disparou. — Se você tivesse responsabilidade com sua posição, jamais falaria isso.

— Responsabilidade? — Arthur deu um riso nervoso, quase histérico. — É isso que chamam de responsabilidade? Jogar a vida do próprio filho num papel assinado com sangue? Vocês deviam se envergonhar!

Ricardo, impassível, recostou-se na poltrona com um leve sorriso.

— A honra tem um preço, rapaz. O seu está nesse contrato.

Rebeca, que até então lutava contra as lágrimas, deu dois passos à frente. Estava pálida, os olhos marejados, mas sua voz saiu firme.

— Eu me recuso a assinar isso. — declarou, encarando o próprio pai. — Pode me deserdar, cortar meu nome dos registros da empresa, fazer o que quiser. Mas não vou me casar com alguém amando outra pessoa. — Ela falou, em um ato de coragem.

— Rebeca! — Ricardo se levantou bruscamente, os olhos flamejando. — Não se atreva a desobedecer uma ordem minha!

— Não é uma ordem, pai. É uma chantagem. — ela respondeu com firmeza. — E eu não sou mais uma criança. Chega de viver sob o seu controle. E meu coração, assim como o do Arthur, já pertence a outra pessoa. — Rebeca revelou, surpreendendo a todos.

— Pronto, já que os jovens fracos não conseguem sequer agir como adultos responsáveis, vocês podem continuar com os parceiros de vocês, desde que sejam amantes discretos. Rebeca, você pode continuar com aquele pobretão. Arthur, você também pode fazer o mesmo, pode continuar com sua namoradinha, desde que não sejam descobertos pela mídia. — Ricardo falou, sem paciência.

— Papai, o senhor está se ouvindo?

— Em uma das cláusulas, é obrigatório que vocês tenham pelo menos um herdeiro. — Ricardo continuou, sem dar importância ao que sua filha havia falado. — E quem pedir o divórcio primeiro, estará devendo para o outro uma quantia bilionária. Agora vamos, assinem logo esse contrato pois ainda tenho muito o que fazer.

Arthur arregalou os olhos, completamente atônito.

— Um herdeiro?! — ele gritou, dando um passo à frente. — Vocês querem nos forçar a gerar uma criança como parte de um contrato empresarial?

Ricardo sequer piscou.

— Exato. Filhos legitimam alianças. E crianças são moldáveis. Crescerão com as responsabilidades que vocês estão desprezando agora.

— Isso é monstruoso — murmurou Rebeca, com um nó na garganta. — Vocês estão usando nossos corpos, nossas vidas, como moedas de troca!

Marcelo fechou os olhos por um segundo, parecendo digerir lentamente o caos que havia contribuído para criar. Quando os abriu, sua expressão era sombria.

— Não pensem que estão sendo os primeiros a enfrentar esse tipo de situação. Nós também fomos pressionados, obrigados a abrir mão de coisas que amávamos. Mas sabem o que aconteceu? Criamos impérios. Legados. Linhagens fortes.

Arthur deu uma gargalhada amarga.

— Que legado é esse que exige que eu durma com uma mulher que não amo e tenha um filho por obrigação? Que tipo de honra há nisso? Vocês acham que isso é força? Isso é covardia!

O loiro passou a mão nos cabelos, andou de um lado para o outro. Seus olhos encontraram os de Rebeca, e ali, no reflexo dos olhos dela, ele viu o mesmo desespero que sentia: a mesma sensação de estar enjaulado num teatro cruel montado por aqueles que deviam protegê-los.

— Rebeca… você quer mesmo fazer isso? Ter um filho só porque mandaram?

Ela negou com a cabeça, lágrimas silenciosas escorrendo por sua face.

— Não, Arthur. Eu não quero. E não vou. Mas se eu me recusar, meu pai vai me tirar tudo.

— A gente precisa pensar. Mas não assine ainda. Por favor. — Ele disse, baixo, segurando a mão de Rebeca.

Ela assentiu.

— Vocês têm até amanhã às dez horas para devolver esse contrato assinado — decretou Ricardo, secando a emoção da cena com um simples aceno de mão. — Caso contrário, vocês já sabem o que acontece.

(...)

Mais tarde naquela noite, Arthur dirigia seu carro calado. Seu rosto estava sério, demonstrando que algo não estava bem. O som de seu automóvel estava desligado, então, o único barulho que ele ouvia era o de seus próprios pensamentos.

Dirigiu por alguns instantes até chegar no prédio onde havia um apartamento que havia dado a sua amada.

Ele pegou o elevador e foi ver Sofia. Ela sorriu ao vê-lo, mas o sorriso murchou ao notar a expressão dele.

— O que aconteceu?

Ele a abraçou com força, com uma intensidade desesperada.

— Amor… a gente precisa conversar.

— Você vai terminar comigo, não vai? — ela perguntou, com a voz já embargada, como se pressentisse.

— Não. Nunca. Mas… estão tentando nos destruir.

Ela ouviu em silêncio enquanto Arthur explicava tudo — o contrato, a cláusula do herdeiro, a multa bilionária, o acordo entre os pais, a pressão.

— Eu queria fugir com você. Agora. — ele confessou, com os olhos vermelhos. — Mas se eu fugir, minha família perde tudo. E você sabe o que eles podem fazer comigo, com você… Eu sou vigiado, Sofia. Você também pode ser.

Ela estava pasma, sentada no sofá, com as mãos trêmulas.

— Então… o que vai fazer?

Ele se ajoelhou à sua frente, e segurou suas mãos.

— Me espera. Me deixa descobrir um jeito. Nem que eu tenha que jogar o jogo deles por um tempo. Mas eu juro… eu vou sair disso. Com você. Por você.

Sofia acariciou os cabelos dele, com um sorriso nos lábios.

— Meu amor, não me deixe. Eu não suportaria a ideia de ficar sem você.

— Eu não irei lhe deixar. Eu juro.

— Então, eu aceito ser sua amante. — Sofia falou, surpreendendo Arthur.

— Eu jamais faria você de amante, Sofia. Vim pedir para que você me esperasse…

— Não vou suportar viver muito tempo longe de você. E nós iríamos continuar fazendo o que já estamos fazendo, nos encontrando às escondidas.

— Mas será totalmente diferente, porque agora serei um homem casado.

— Arthur, entenda, eu não vou abrir mão do amor da minha vida por causa de um contrato. Você me ama e eu te amo também, então, eu aceito continuar lhe vendo às escondidas, desde que eu seja a única mulher que possua o seu coração.

Arthur permaneceu ajoelhado diante de Sofia, os olhos fixos nos dela. As palavras que ela havia dito ainda ecoavam dentro dele como um trovão distante.

“Eu aceito continuar lhe vendo às escondidas, desde que eu seja a única mulher que possua o seu coração.”

Aquilo o esmagava por dentro.

— Eu não queria isso pra você… — ele murmurou, com a voz embargada. — Você não merecia estar presa nesse tipo de situação, meu amor.

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