Ricardo franziu a testa, claramente desaprovando a postura da filha. Marcelo, por outro lado, pareceu um pouco mais receptivo.
— Rebeca, você não deve se colocar em primeiro lugar, é uma questão de negócios. — disse Ricardo, com um tom de autoridade. — Mas, pai, isso não é só sobre negócios. É sobre vidas, sentimentos. — Rebeca respondeu, sua voz se firmando. Arthur sentiu um nó se formar em sua garganta ao ouvir a coragem com que Rebeca falava. Nunca havia se interessado por ela de verdade, mas ali, pela primeira vez, enxergou algo além da imagem frágil e moldada por aparências. Ela estava lutando — não só por ele, mas por si mesma. Isso o tocou. — Rebeca, isso é um absurdo. Você não devia ser forçada a isso também. — disse o loiro, se aproximando alguns passos da janela, ainda em choque com tudo que acontecia. — Ninguém aqui está sendo forçado. — cortou Ricardo, irritado. — Estamos apenas cumprindo um dever. Vocês são jovens, não entendem ainda o que está em jogo. Mas um dia, agradecerão. — Agradecer por terem jogado nossa liberdade no lixo? — Arthur rebateu, sarcástico. — Desculpe, mas não. Eu amo a Sofia. Ela é minha vida, meu presente e meu futuro. Ricardo soltou uma risada seca, sarcástica. — A moça que sai com você por motéis escondidos? Que não tem sobrenome forte nem linhagem empresarial? Me perdoe, Arthur, mas isso é fogo de palha. Amor juvenil. E não é suficiente para manter um império. — Sofia é mais verdadeira do que todos vocês aqui juntos. — Arthur falou com firmeza. — E talvez seja justamente isso que incomode tanto. Carla, que até então permanecia em silêncio, cruzou os braços e suspirou fundo. — Chega. — ela disse com pesar. — Essa reunião era para unir, mas só trouxe discórdia. — O que você quer dizer com isso, Carla? Vai apoiar essa loucura? — Marcelo perguntou. Ricardo bufou, indignado. Rebeca baixou o olhar, claramente abalada, mas com a alma mais leve por ter, ao menos uma vez, sido ouvida. Um silêncio pesado caiu sobre a sala. Até que Marcelo se levantou e caminhou lentamente até a janela, ao lado de Rebeca. Olhou para o horizonte e falou com a voz baixa, mas firme: — Arthur… você ama essa garota de verdade? — Mais do que tudo. — respondeu ele, sem hesitação. — Então deixe-a livre, pois você e Rebeca se casarão! — Pai, por favor… — Arthur implorou, tentando convencer Marcelo da loucura que era aquele casamento. — Eu dei minha palavra. E você sabe que eu nunca volto atrás com a minha palavra. O silêncio cortante na sala parecia sufocar. Arthur encarava o pai, sem acreditar no que ouvira. — Você… você não pode estar falando sério. — ele disse, com a voz embargada. — Vai mesmo me forçar a me casar com alguém que eu não amo? Vai destruir meu futuro só pra manter uma promessa? — Não é apenas uma promessa, Arthur. — Marcelo respondeu com frieza. — É honra. É um legado. É a estabilidade de tudo o que construímos. — Você construiu, pai! Não eu! — o loiro explodiu. — Você vive por essa empresa, mas eu… eu só queria viver minha vida com a mulher que eu amo! Ricardo cruzou os braços e lançou um olhar arrogante para o filho do sócio. — Está me decepcionando, Arthur. Um verdadeiro herdeiro entende o valor de um sacrifício. — E um verdadeiro homem protege quem ama. — rebateu Arthur, com o olhar firme. — Eu não vou me casar com a Rebeca só pra vocês manterem esse império podre! Rebeca estremeceu. Ela não se sentia ofendida, pelo contrário, compreendia cada palavra. A verdade é que, se estivesse no lugar dele, talvez também gritasse. Talvez também se revoltasse. Marcelo deu um passo à frente, a raiva começando a transparecer. — Então você escolhe a ruína? Você vai jogar fora tudo o que eu te dei? — Se for pra manter minha dignidade, sim. — Arthur respondeu. Ricardo riu, debochado. — Se todos forem como vocês, o mundo empresarial vai virar uma novela das oito. Marcelo estreitou os olhos. Seus ombros estavam tensos, o maxilar travado. Ele caminhou até a mesa, pegou uma pasta preta de couro e a jogou com força sobre a superfície, fazendo todos se sobressaltarem. — Não tem mais discussão. — sua voz saiu baixa, mas cortante. — Está aqui, Arthur. O contrato de união empresarial já foi assinado por mim e por Ricardo. Falta apenas a sua assinatura e a de Rebeca. E você vai assinar. Arthur deu um passo atrás, como se as palavras tivessem lhe acertado um tapa. Ele olhou para o objeto sobre a mesa como se fosse uma sentença de morte. — Não. Eu… eu não vou assinar isso. — ele murmurou, ainda atordoado. Ricardo, que até então se mantinha de pé ao lado da poltrona, caminhou até a mesa, abriu a pasta com calma e retirou o contrato. Estendeu-o na direção de Arthur, com uma expressão fria e vitoriosa. — É melhor olhar com atenção antes de recusar. — disse, com ares de mestre de xadrez prestes a aplicar um xeque-mate. — Leia a cláusula vinte e três. Arthur se aproximou, hesitante, e pegou o papel. Seus olhos percorreram as linhas com rapidez até que, ao chegar na tal cláusula, seu rosto empalideceu. “Caso qualquer das partes envolvidas recuse o cumprimento da aliança matrimonial acordada entre os herdeiros legítimos, a parte desistente deverá arcar com uma multa de quarenta por cento dos ativos atuais das respectivas empresas. O não cumprimento da cláusula implicará no rompimento imediato dos contratos de parceria e fornecimento, com danos calculados judicialmente.” — Isso é chantagem legalizada! — Arthur vociferou, jogando o papel de volta à mesa. — Isso é precaução. — Ricardo retrucou. — Você acha que firmamos alianças multimilionárias com base em sentimentos volúveis de um jovem que não sabe o valor de um império? Não, Arthur. Firmamos com garantias. E agora, ou você cumpre com sua parte, ou paga pelas consequências. — Isso não é justo! — Rebeca interveio, indo até o centro da sala. — Nem comigo, nem com ele. Eu não assinei nada. Não quero um marido que me odeie só para manter lucros. — Você não tem escolha, Rebeca. — Ricardo rebateu com firmeza. — Você é minha filha. E sua assinatura será obtida, de um jeito ou de outro.