Ela acariciou o rosto dele com ternura, mesmo com os olhos marejados.
— Mas é isso que temos. E é melhor do que nada. Eu prefiro te ter em segredo, do que não te ter de jeito nenhum. Ele a puxou para um abraço apertado, desesperado, como se pudesse protegê-la do mundo — ou de tudo o que viria depois daquela escolha. E então, como quem sela um pacto que jamais deveria ter sido necessário, Arthur sussurrou contra seus cabelos dourados: — Então me promete que será só minha. Mesmo se eu estiver preso a outra por fora… por dentro, meu coração será inteiro seu. Me promete isso. — Eu prometo. — ela respondeu, com a voz baixa. — Mas você também tem que me prometer uma coisa. Ele se afastou um pouco, confuso. — O quê? — Que, no fim disso tudo… nós vamos ficar juntos. Que essa dor vai valer a pena. Que, de alguma forma, você vai me tirar dessa sombra. Que um dia, eu poderei ser sua esposa, sem esconderijos. Arthur assentiu, com os olhos marejados. Pegou as mãos dela, entrelaçando os dedos com os dela. — Eu juro. Eu vou lutar por nós. Por mais que doa. Por mais que me destrua. Eu vou fazer valer a pena. Porque você é o amor da minha vida, Sofia. Os dois se abraçam em silêncio, como se, naquele instante, seus corações estivessem tentando se fundir para suportar o que viria a seguir. Era um amor bonito, mas amarrado à tragédia de um destino forçado. E isso doía. (...) Na manhã seguinte, a mansão dos Carvalhos estava silenciosa, mas o ar era tenso como uma tempestade prestes a explodir. Marcelo aguardava sentado em sua poltrona de couro, com Ricardo ao lado, impaciente. Carla, com os olhos fixos na lareira, tomava seu chá sem dizer uma palavra. Às 9h55, Rebeca chegou. Estava com os cabelos presos, um vestido sóbrio azul-marinho e os olhos inchados de uma noite mal dormida. Mas seu semblante estava firme. Ela carregava consigo uma pasta em couro branco. Poucos minutos depois, Arthur adentrou o salão. Estava vestido com um terno escuro, sem gravata, o rosto sério, os olhos escondendo o cansaço e a revolta. — Vieram no último minuto. — murmurou Ricardo, consultando o relógio. — Achei que teriam mais dignidade do que isso. Arthur não respondeu. Apenas caminhou até a mesa e puxou a cadeira com firmeza. Rebeca sentou-se ao seu lado. Marcelo os observava com olhar de ferro. — E então? — perguntou ele, direto. — Vão assinar? Arthur encarou Rebeca. Ela assentiu levemente. Com um suspiro profundo, o loiro puxou a caneta prateada da pasta e, sem desviar o olhar do papel, assinou. Rebeca fez o mesmo. O silêncio que se seguiu era quase insuportável. Ricardo sorriu, satisfeito, e recolheu os papéis com a satisfação de quem acaba de vencer uma guerra. — Agora sim, temos um futuro garantido. Parabéns, casal. Vocês acabam de selar o destino de duas fortunas. Arthur se levantou abruptamente. — O contrato está assinado. Mas isso não quer dizer que vocês venceram. Ricardo arqueou uma sobrancelha. — Como é? — Eu cumpri minha parte. Mas jamais darei a vocês minha alma. Eu não sou uma peça da empresa. E não pensem que vão controlar cada segundo da minha vida. — Você agora tem uma esposa, Arthur. Espero que comece a agir como tal. — disse Marcelo, com a voz fria. O loiro apenas lançou um olhar firme ao pai. — E eu tenho uma amante. Uma que nunca deixei de amar. E que continuará comigo. Vocês me obrigaram a entrar nesse jogo sujo, agora aguentem as regras. Carla empalideceu, mas não respondeu. Rebeca não se surpreendeu. Ela já esperava isso. Ela também sabia o que faria depois. — Está certo, rapaz. Agora pare com esse show que você não tem mais idade pra isso. Onde já se viu, um marmanjo de vinte e poucos anos se comportando feito uma criança? — Ricardo falou, impaciente. — Meu amigo Marcelo, vou te dizer, viu, que herdeiro mais rebelde esse que você tem. — Ele se apaixonou Ricardo, é normal que ele fique assim. Arthur olhou para seu pai incrédulo. A naturalidade com que ele falava de seu futuro chegava a ser perturbador. — Bom, vamos lá para o quê interessa. Vamos começar a soltar para a mídia que vocês estão juntos, que sai um casal de namorados apaixonados. — Ricardo falou, entusiasmado. — Vamos começar colocando esse plano em prática ainda hoje. — Que plano é esse? — Rebeca perguntou, sem muito interesse. — Vocês irão para um jantar em um restaurante, onde irão ficar em uma mesa mais afastada. Eu ficarei responsável por mandar alguém de minha confiança avisar aos colunistas que vocês estão lá. — Ricardo completou, ajeitando os botões da camisa como quem organiza sua própria peça de teatro. — Os flashes vão fazer o resto. Fotos, sorrisos, insinuações. É assim que se constrói uma imagem. Rebeca respirou fundo, como se engolisse o amargor de toda aquela situação. Arthur olhou de lado para ela, e por um instante seus olhos se encontraram. Ambos sabiam que estavam presos em uma farsa, mas ainda assim, seguiram com o script. — Não se preocupem, vocês terão o melhor assessor de imagem que o dinheiro pode comprar. Vamos fabricar um romance. Do tipo que o público adora. — Ricardo continuava, como se fosse um diretor de cinema. — Vocês não querem um casal, querem uma mentira bem produzida. — Arthur disse, com sarcasmo, já de pé. — A mentira vende, Arthur. E você agora faz parte do negócio. — Marcelo respondeu, seco. — Já que você quis jogar duro, jogue com elegância. — O jantar é às vinte horas. Restaurante La Viní, na zona sul. Já está reservado. — Carla enfim falou, sem tirar os olhos da xícara de chá agora vazia. — As roupas foram enviadas para o apartamento de vocês. O motorista estará às dezenove horas. Não se atrasem. — Seria interessante se Arthur levasse Rebeca. — Ricardo falou, tentando achar o lado mais convincente. — Talvez sim. Mas acho que ficaria muito óbvio. — Carla respondeu. Rebeca levantou-se devagar, alisando o vestido. — Mais alguma ordem? — ela perguntou, com ironia contida. Ricardo sorriu. — Só uma: sorrisos largos e mãos dadas. E quando perceberem os jornalistas, soltem as mãos, para que assim eles pensem que vocês estão escondendo algo. Lembrem-se, o amor de vocês tem que convencer até o mais cínico dos jornalistas. Arthur deu um passo à frente, parando diante de Ricardo. — O amor que vocês forçaram vai ser uma bomba-relógio. E quando explodir, espero que estejam preparados para o escândalo. Marcelo apenas observava, impassível. — Apenas faça o que tem que ser feito, Arthur. Você tem um legado para proteger.