Arthur agradeceu, apertando mais a mão de Rebeca, como se dissesse “continue firme”. Ela apenas sorriu, murmurando um “obrigada” quase inaudível.
Minutos depois, foram conduzidos até a mesa central. Estavam rodeados pelos principais empresários, colunistas de sociedade e membros estratégicos da alta roda. Ricardo, claro, estava lá. Impecável, com seu sorriso frio e orgulhoso. — Vocês chegaram no momento certo — ele disse, levantando-se para cumprimentá-los. — O chef está prestes a servir a primeira entrada. Rebeca manteve a postura. Sentou-se, cruzou as pernas discretamente e deixou as mãos sobre o colo, como uma dama educada faria. Arthur, ao seu lado, mantinha o semblante sereno, mas pelo pouco que ela o conhecia, sabia da tensão nos ombros que o rapaz estava. Durante o jantar, brindes foram feitos e palavras ensaiadas foram ditas. Um jornalista se aproximou sorrateiramente: — Rebeca, é verdade que vocês planejam o casamento para o próximo semestre? Ela sorriu, medindo cada palavra: — Ainda estamos definindo datas, mas... estamos felizes. E isso é o mais importante, não? — E o anel? Pode nos mostrar? Ela ergueu a mão com o diamante. A luz das velas fez a pedra brilhar intensamente, como se zombasse do que realmente representava: uma prisão polida, envolta em luxo e silêncio. Mas foi só depois da sobremesa, quando o champanhe já circulava e os risos ecoavam pelo salão, que Ricardo se levantou, erguendo a taça. — Senhores e senhoras — ele começou, chamando a atenção com sua voz grave e controlada —, gostaria de fazer um brinde muito especial nesta noite. Rebeca gelou. — Hoje celebramos o início de uma nova fase. Um compromisso que une não apenas duas pessoas, mas dois legados. Um amor que começou discretamente, mas agora se torna público. — Um brinde ao futuro! — Marcelo, que até então estava calado, levanta-se também para brindar. — Arthur, cuide bem de Rebeca, pois ela é o bem mais precioso que eu tenho. — Ricardo falou, emocionando os convidados. Arthur olhou para Rebeca de soslaio. Ela mantinha o sorriso, mas seus olhos estavam marejados. Ela estava odiando todo aquele teatro de seu pai. — Minha filha — Ricardo continuou, com seu discurso ensaiado — sua mãe não está mais conosco, mas saiba que ela ficaria muito feliz em ver a mulher linda e forte que você se tornou. Sei que esse noivado pode ter sido surpresa para muitas pessoas, mas para nós que estávamos nos bastidores, sabemos a quanto tempo esse amor tem sido regado. — Um amor sólido. Que foi construído dia após dia. — Marcelo continuou com a encenação. — E do jeito que esses dois estão apressados, não duvido nada que em menos de dois anos eles venham nos presentear com netos. — Já imaginou, Marcelo? Um Almeida Carvalho correndo em nossas casas? — Vai ser uma continuação do nosso legado. — Ao casal Arthur Carvalho e Rebeca Almeida! — completou Ricardo, erguendo a taça. — Noivos! Um coro de aplausos tomou o salão. O som das taças se chocando, os flashes mais intensos. Rebeca sentiu-se encolher por dentro. Arthur segurou sua mão, ergueu-a e, sob os olhares atentos, depositou um beijo delicado em seus dedos. O gesto foi doce, teatral, e por isso mesmo, cruel. Os convidados se derreteram. As câmeras captavam cada ângulo. — Está indo muito bem. — ele murmurou, baixinho, apenas para ela ouvir. Rebeca manteve o sorriso no rosto, mas seu coração parecia prestes a despencar do peito. Aquela frase de Arthur, dita com tom cúmplice e quase tranquilizador, soava como uma algema invisível. Porque ela não queria estar indo bem. Ela queria estar longe. Longe daquele anel, daquela encenação, daquele salão lotado de gente que aplaudia mentiras bem vestidas. Ela sentia a garganta apertar. O ar no salão parecia rarefeito, sufocante, como se cada risada e taça erguida a empurrasse para um buraco mais profundo. Ainda assim, permaneceu sentada, ereta, com a mão repousando delicadamente sobre a de Arthur. E foi nesse turbilhão de emoções que seus olhos se fixaram em uma figura que acabava de entrar no salão. Isaac Alves, o homem ao qual pertencia o seu coração. Ele estava ali. No fundo, encostado perto da entrada, vestindo um blazer escuro e com uma expressão difícil de decifrar. Estava sério. Observador. Seus olhos encontraram os dela, e ali, em meio a todo aquele cenário montado, Rebeca sentiu o chão se abrir. Ela não sabia se queria correr até ele… ou desaparecer. Ela sentiu o estômago revirar. Isaac não era só o passado. Era a lembrança do que poderia ter sido — da vida que teria escolhido se tivesse tido a chance. Mas não teve. Porque as decisões foram tomadas por ela, ou melhor, por cima dela. Por Ricardo. Por acordos. Por poder. E como se o universo quisesse a machucar ainda mais, um grupo de senhoras da alta sociedade se aproximou da mesa, e Rebeca se viu obrigada a responder perguntas fúteis, a mostrar o anel, a rir como se fosse a mulher mais feliz do mundo. — Está tudo parecendo um conto de fadas — disse uma delas, encantada. — Você acredita em destino, Rebeca? Ela piscou algumas vezes, tentando formular uma resposta. — Acredito... — respondeu com um meio sorriso — que às vezes o destino é uma escolha que a gente é forçado a aceitar. As mulheres riram, achando que era uma piada elegante. Mas Arthur franziu o cenho. Sabia que não era. Ele conhecia o suficiente da história para entender o amargor por trás da frase. — A conversa está muito boa, mas preciso retocar a maquiagem. — Rebeca falou, levantando-se. — Verdade. Hoje é uma noite muito importante. Você deve estar perfeita! — Uma das mulheres falou, com um sorriso. Rebeca dirigiu-se até o banheiro feminino, mas em vez de entrar, virou em um corredor lateral e encostou-se na parede. Respirou fundo. Precisava de ar, precisava pensar. — Achei que fosse te ver mais cedo. — uma voz grave falou atrás dela. Ela se virou, já sabendo quem era. Isaac. Ele estava com a gravata levemente afrouxada e os olhos fixos nela. Os mesmos olhos que costumavam sorrir, agora estavam duros, fingindo estar decepcionados. — O que você está fazendo aqui? — ela perguntou em voz baixa. — Você sabe o que estou fazendo aqui, Rebeca. Vim ver com meus próprios olhos. Ver se era verdade. E é.