Rebeca fechou os punhos, mas permaneceu em silêncio. Sabia que lutar ali, naquele momento, era em vão.
— Era somente isso que o senhor queria me mostrar? — Não. Vim lhe avisar do segundo passo de vocês. Certo que Arthur já deve ter sido fotógrafo na joalheria. — Ricardo falou, observando seu relógio de pulso. — Daqui a dois dias você irá aparecer com um anel de noivado, em um jantar. E como quem não quer nada, você irá deixar seu dedo à mostra, segurando uma bola ou até mesmo seu celular. — Mais alguma coisa? — Por enquanto é só. Você já pode ir. Rebeca balançou a cabeça em concordância, virando-se em direção a saída. — Rebeca… — a voz potente de Ricardo a fez parar, olhando-o por cima do ombro. — nem pense em estragar tudo encontrando-se com aquele pé rapado do Isaac. Ela nada disse, apenas abriu a porta e saiu, com o coração despedaçado. Rebeca caminhava com o olhar fixo em lugar nenhum. Cada passo era uma luta contra a vontade de gritar. A vontade de correr, sumir, rasgar aquele vestido caro e se libertar daquele teatro que estava virando sua vida. Mas ela não podia. Não agora. O ar do corredor estava sufocante. Tudo parecia girar lentamente ao seu redor — os quadros na parede, o piso de mármore impecável, os rostos dos funcionários que evitavam encará-la diretamente. Todos sabiam. Todos fingiam. Todos faziam parte do mesmo roteiro. Assim que chegou ao jardim da mansão, deixou-se cair em um dos bancos de pedra sob a sombra de uma árvore. O vento tocava de leve seus cabelos, e o céu estava azul demais para contrastar com o caos que ela sentia por dentro. Uma ironia cruel da vida. Pegou o celular no bolso, pensou em ligar para alguém — talvez Isaac, mas desistiu. A quem ela podia realmente confiar agora? Passou o resto da tarde reclusa, entre livros que não lia e músicas que não ouvia. O tempo apenas escorria. À noite, trancou-se no quarto e chorou até dormir. (...) Dois dias depois, conforme o planejado por Ricardo, a encenação seguiria seu novo ato: a revelação do noivado. Um jantar mais íntimo, com convidados selecionados, jornalistas infiltrados e flashes discretos. Tudo estava preparado com perfeição. Tudo... menos o coração de Rebeca. Ela vestia um conjunto branco, de linho, com um corte moderno e elegante. O cabelo estava preso num coque baixo e clássico, com mechas soltas que emolduravam seu rosto. A maquiagem era leve, mas destacava seus olhos tristes. A única coisa que destoava era o anel. Um diamante delicado, mas exuberante demais para passar despercebido. O símbolo de uma união que não existia — pelo menos não para o coração dela. Arthur a esperava na escadaria da mansão dos Almeida. Estava impecável, como sempre. Mas seus olhos também denunciavam o cansaço. A culpa, talvez. Ou o peso de uma mentira que crescia a cada dia. — Pronta? — ele perguntou, tentando sorrir. — Pronta. — ela respondeu, sem convicção. Entraram no carro sem trocar mais palavras. O jantar aconteceria em um salão reservado de um dos hotéis mais sofisticados da cidade. O ambiente era requintado, decorado com flores claras e velas suaves. Já havia gente por lá, inclusive repórteres disfarçados, que circulavam entre os convidados, captando sorrisos e cochichos. Assim que chegaram, Arthur segurou a mão de Rebeca com naturalidade. Ela retribuiu o gesto, erguendo a cabeça com dignidade. Precisava parecer confiante. Precisava parecer apaixonada. E, acima de tudo, precisava mostrar o anel. O bendito anel. Durante o jantar, tudo seguiu conforme o planejado. Risos, toques sutis, olhares trocados. A cada vez que Rebeca erguia a taça ou mexia no celular, fazia questão de manter a mão esquerda em evidência. Os cliques aconteciam discretamente, mas ela percebia. Estavam registrando tudo. O show estava no ar. — Esses fotógrafos não sabem nem se camuflar. — Arthur comentou, bebendo um gole de champanhe. — Acho que até a gente finge melhor. — Rebeca respondeu, sorrindo. Arthur retribuiu o sorriso. Um sorriso triste. Porque, no fundo, sabia que Rebeca estava certa. Fingir era o que faziam de melhor. Fingiam estar apaixonados, fingiam felicidade, fingiam que aquele futuro era deles por escolha própria. Mas nada era real — nem as palavras doces trocadas à mesa, nem os olhares cúmplices cuidadosamente calculados para os flashes. Enquanto caminhavam, Arthur discretamente segurou a mão de Rebeca. Era um gesto ensaiado, pensado para as câmeras, mas o toque dele foi quente — e por um breve segundo, ela sentiu uma faísca incômoda no peito. Não era paixão. Era confusão. Não demorou muito e os flashes discretos continuaram. Fotógrafos infiltrados atrás de arranjos, atrás de sorrisos. Rebeca sorriu. Por obrigação. Por instinto. Mas seu olhar vagava, procurando uma saída invisível daquele teatro montado. — Casal lindo! — exclamou uma senhora de vestido verde-oliva, com entusiasmo. — Que energia boa! É tão raro ver um casal tão jovem e entrosado.