Tem algo que ninguém te prepara na vida, a sensação de que o seu próprio corpo virou uma armadilha.

Há dias, eu sentia dores estranhas na barriga. Cólica, náusea, peso… como se meu corpo estivesse tentando me dizer alguma coisa e eu estivesse ignorando. Talvez por medo. Talvez porque, no fundo, eu sabia.

Naquela noite, a dor veio rasgando. Intensa. Seca. Quente. Quando coloquei a mão na barriga, senti algo escorrer. Olhei.

Sangue.

O grito saiu antes que eu pudesse pensar.

— Tia! MÃE!

As duas vieram correndo, e quando viram o sangue nos meus lençóis, no meu short, nas minhas mãos... os olhos delas se arregalaram. Eu tremia. A dor física era nada perto do pavor. Eu ia perder meu filho.

(…)

No hospital, fui tratada às pressas. Exames, ultrassom, medicações. Eu não ouvia nada. Só queria ouvir o som do coração dele. Meu filho. Meu.

O médico voltou com os exames. O rosto dele era uma sentença.

— Você ingeriu substâncias abortivas. — ele disse, direto. — A quantidade e o tempo de e