Meses se passaram desde aquela conversa amarga no quarto, e nada melhorou. Pelo contrário, só piorou. As brigas se tornaram rotina. As ausências dele, cada vez mais longas. O silêncio, mais cruel. E o meu ciúmes? Virou um monstro que me devorava por dentro, me consumia em cada madrugada que ele não voltava, em cada chamada ignorada, em cada desculpa esfarrapada sobre “trabalho”.
Eu já não sabia mais quem eu era. Me perdia nos próprios pensamentos, tentando entender onde foi que tudo desandou. E mesmo assim, eu não conseguia me afastar. Era como se ele tivesse me enfeitiçado, como se eu estivesse presa num laço que só apertava.
Hoje era noite de baile. A cidade inteira comentava, a favela estava em festa. E Lucas… Lucas parecia alheio a tudo que acontecia dentro de mim.
— Eu vou pro baile sozinho hoje. — ele disse, largando a toalha no sofá, sem nem me encarar. O tom seco, indiferente, como se eu fosse só mais uma sombra naquela casa.
Me virei devagar, o estômago já se revirando.