Hoje é o dia. Depois de tudo que aconteceu, depois de eu ter basicamente trocado de chefe e, de repente, destrocado — sem que o anterior jamais desconfiasse — finalmente cheguei a este momento. O trabalho de hoje não era qualquer coisa: envolveria uma compradora importante para ele, quase íntima, mas não de um jeito errado. Era no sentido de confiança, de negócios. Eu nunca a conheci, mas só de pensar já me deixava nervosa.
Curioso como o mar cedeu seu próprio quarto de hóspedes. A casa, que para ele sempre foi um refúgio de silêncio e meditação solitária, agora era cenário do meu dever. Esse homem, no fim das contas, é um herói. E, ainda que eu desejasse desvendá-lo aos poucos, agora ele era também parte do meu trabalho.
Cheguei mais cedo, com a estranha sensação de que precisava organizar tudo, mesmo que cada detalhe já estivesse perfeito. Girei a chave, abri a porta e, quase sem perceber, voltei a guardá-la na bolsa. Tenho essa mania irritante de me esquecer do que acabei de fazer.