Passei todo o caminho imersa nos meus próprios pensamentos, revivendo cada detalhe do dia. Eu deveria estar feliz. E estava, em partes. Mas junto da felicidade vinha a preocupação — grande, sufocante. Uma vida construída em cima de mentiras. Essa era a sombra que me perseguia. O medo constante de que, a qualquer momento, a verdade viesse à tona e destruísse o que estávamos construindo. Ele me odiaria se descobrisse. Mesmo que eu dissesse, com todas as palavras, que o amava.

— Entregue. — A voz de Omar me arrancou das minhas divagações. Pisquei duas vezes até perceber que já estávamos em frente de casa. Ele dirigia, já que o motorista estava de folga. — O que aconteceu?

Seu cenho franzido denunciava preocupação. Mordi os lábios, e percebi seu olhar deslizar até a minha boca. Omar não disfarçava desejos. Estava aprendendo isso aos poucos, decifrando os sinais em seus olhos escuros, principalmente quando ele me prendia contra alguma superfície antes de me beijar. Era o mesmo olhar que me