Eu estava uma pilha de nervos. Só de pensar que a polícia estava envolvida, minhas mãos começavam a suar. Quando o Miguel me ligou, pedindo para eu vir até aqui, meu coração deu um salto no peito. Era como se meu corpo soubesse antes mesmo de mim que eu teria que encarar o pior: voltar ao meu antigo trabalho. Voltar a ver ele. Aquele homem que, por mais que eu tentasse, não conseguia tirar da cabeça — e pior, do coração. Estava começando a sentir algo por ele. Algo profundo, confuso… algo que me fazia querer correr na direção contrária. Porque se eu ficasse longe, talvez esquecesse tudo o que aconteceu. Talvez conseguisse me proteger.
Mas é claro que a Dona Glória jamais permitiria isso. Eu ainda devia a ela. E não era pouco. Eram duzentos mil dólares. A quantia absurda que ela me emprestou para pagar a dívida daquele idiota do meu irmão. Aquele que quase destruiu a minha vida inteira com a irresponsabilidade dele.
Por sorte — ou talvez por uma trégua do destino — ele estava mudando.