Capítulo Seis

Não imaginei que o dia pudesse piorar, mas a comida deu forças a Henrique, que estava ainda pior do que de manhã. Aos gritos, criticava todas as coisas que eu fazia, e não parava de se curvar sobre meu computador e encostar em mim, tentando corrigir minhas planilhas enquanto os outros funcionários me encaravam, complacentes, mas sem dizer uma palavra.

Eu queria morrer.

— Está tudo errado! — Sem aviso, jogou outra pilha de papéis sobre minha mesa, e a xícara de café quase caiu. — Não te mandei revisar de novo? Os números estão errados!

Me esforçava ao máximo para manter a compostura, cerrando os dentes e engolindo meus suspiros de frustração.

— Já revisei duas vezes, senhor, mas posso olhar de novo — murmurei. — Só que eu realmente não faço ideia do que está errado, pode por favor me explicar?

Um grande erro.

— Faça de novo desde o começo! Eu preciso te explicar tudo? Acha mesmo que merece continuar aqui — me cortou, com um rugido arrogante e repleto de desdém.

Não estava mais aguentando.

Antes de ser demitida por justa causa, me levantei. Enquanto caminhava, o ouvia gritar comigo e ouvia também os sussurros dos curiosos. Mas continuei andando, até chegar ao banheiro, onde olhei meu reflexo e respirei fundo.

Observei o mármore branco, e o cheiro de sabonete e a luz suave me acalmaram. O perfume de lavanda encheu meu olfato de apreciação, reduzindo minha ansiedade, enquanto o fio da cerâmica me abraçava. Ouvi os saltos de algumas colegas, mas continuei imóvel, olhando para meus dedos úmidos sobre a pia.

— Você está bem? — uma voz doce sussurrou atrás de mim.

Uma jovem loira, parecia genuinamente preocupada, enquanto encolhia uma das mãos contra o peito, fazendo menção de me tocar. Quando não me esquivei, seus dedos pararam em meu ombro, e seu sorriso gentil me acolheu.

Li o nome “Beatriz” em seu crachá, querendo decorá-lo.

— Estou, só precisava respirar — garanti, me esforçando para sorrir.

Beatriz inclinou a cabeça de leve, e pude ver o quanto ela não acreditava.

— Henrique é um arrogante pé no saco, mas não deixe que ele pise em você, aquele cara não é dono de nada aqui — recolheu a mão, indo ajeitar sua maquiagem no espelho ao meu lado. — E se precisar de uma força, pode me procurar, não tivemos tempo de nos conhecer, mas sou Beatriz, e me sento no fim do corredor.

— Muito obrigada, Beatriz, será ótimo poder contar com você — a gentileza inesperada me fez sentir um pouco melhor.

Estava determinada, mas Henrique não estava mais lá quando voltei a minha mesa. Faltava muito pouco para o fim do expediente, só tinha que aguentar mais uma hora. 

Só não esperava o que viria a seguir.

Perto da hora de ir, Henrique me chamou. Estava com frio no estômago, nervosa por ficar sozinha com ele, mas, quando cheguei, ele nem mesmo me olhou.

— Sua última tarefa do dia — disse com desprezo, jogando o envelope na mesa. — Vá para o vigésimo andar e entregue nas mãos do CEO.

Me senti uma idiota, claro que uma coisa assim poderia acontecer.

— O quê? — não havia firmeza na minha voz, que saiu muito mais baixo do que eu gostaria.

— Está com problemas para seguir ordens? — arqueou a sobrancelha. — Preciso da assinatura de Matheus Vasconcellos até amanhã de manhã.

Peguei o envelope depressa, tentando parecer séria e despreocupada, para afastar seu interesse em mim e sair logo dali.  Eu tinha passado o dia inteiro tentando evitar Matheus, e agora, do nada, Henrique me forçava a ir até ele.

Eu realmente o odiava.

Será que ele sabia de alguma coisa?

Entrei no elevador, e o caminho até lá pareceu durar uma eternidade.

Caminhei pelo corredor com a vista panorâmica, que parecia bem menos bonito e mais assustador agora. Tentei me convencer que era só trabalho, que continuaríamos como antes, uma secretária e o chefe que a conhecia de vista, mas não se importava.

Bati na porta e esperei.

A voz rouca e desconcertante respondeu do outro lado.

— Entre.

Obedeci.

Matheus estava sentado atrás da mesa enorme, imponente, e seu olhar parecia surpreso quando encontrou o meu.

O tempo pareceu parar.

Eu nunca deveria ter aceitado esse emprego, queria muito ir embora dali.

Eram emoções demais para um único dia.

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