Narrado por Mariana
O enjoo matinal voltou. Três dias seguidos. Três manhãs se arrastando até o banheiro, a boca amarga e o estômago revirando, como se meu corpo estivesse tentando me contar algo que minha mente ainda não queria aceitar. Sentei na beirada da cama com o teste de farmácia entre os dedos trêmulos, o visor ainda com a linha cor-de-rosa me encarando como se gritasse: grávida.
Grávida.
Encostei as costas na parede, abracei os joelhos e deixei as lágrimas escorrerem silenciosas. Não era tristeza. Não era felicidade. Era medo, era choque. Era o mundo girando mais rápido do que eu podia acompanhar.
Depois do tiro. Depois do susto. Depois de ser salva por um vapor que apareceu do nada — como sempre, enviado por ele. Depois de tudo isso, agora isso.
Não dava. Não dava pra continuar no hospital como se nada estivesse acontecendo. Não dava pra viver como se eu não estivesse sendo caçada por alguém que queria me calar. Então, sem pensar muito, pedi licença. Arrumei uma mala pequena