Narrado por Mariana
As janelas do carro embaçavam com a umidade do amanhecer quando finalmente pisei de volta no Rio. O sol ainda nem tinha nascido, e eu já sentia o peso da cidade nos meus ombros como se nunca tivesse ido embora. Porto de Galinhas tinha sido um alento temporário, uma bolha de paz, mas o mundo real não se deixa esquecer. Ainda menos quando você está fugindo dele com um teste positivo de gravidez na bolsa e o coração dividido entre a raiva, o medo e um desejo incontrolável de não amar mais aquele homem. E ainda assim, amar.
Voltei mais calada, mais leve e, ao mesmo tempo, mais cheia. Me instalei em uma casa afastada, longe da rotina do hospital, da movimentação dos becos, do peso de todos os olhares me esperando ser algo que eu ainda não sei se quero ser. Pedi uma licença prolongada, não dei detalhes. Disseram que entenderam. O mundo do hospital entende muita coisa. Mas no morro, as coisas são diferentes.
Comecei a atender algumas pessoas da comunidade de forma di