O retorno à cidade veio com um choque silencioso. A estrada deu lugar ao trânsito, ao som insistente das buzinas e ao ar carregado de fumaça. No banco do carona, Cecília observava pela janela, o corpo ainda preso na calma da casa de campo, mas a mente já se preparando para voltar à rotina.
Quando Enrico virou a esquina que levava ao apartamento dele, ela pigarreou.
— Eu vou ficar na minha casa hoje.
O olhar dele se desviou rapidamente para ela, a expressão mudando.
— Não. — A resposta veio seca, imediata. — Cecília, não é uma boa ideia.
— É sim. — Ela manteve a voz firme, olhando para frente. — Eu já fiquei tempo demais fora.
Ele diminuiu a velocidade, como se ganhar alguns segundos o ajudasse a convencê-la.
— Você esqueceu o que aconteceu? — a voz dele agora tinha um peso contido. — Já parou pra pensar o que poderia ter acontecido se você estivesse lá? E se acontecer de novo?
— Isso foi antes de eu suspeitar que pode ter sido o meu pai. — Ela falou devagar, como quem já havia pensado