Sr. Marcus era um homem alto, de postura imponente, com ombros largos e uma presença que preenchia qualquer ambiente. Seus cabelos grisalhos estavam perfeitamente penteados para trás, revelando uma testa larga e vincada por anos de decisões difíceis. Os olhos, negros como carvão, eram penetrantes e atentos, do tipo que pareciam enxergar além das palavras. Vestia um terno cinza de corte impecável, e seus sapatos brilhavam como espelhos sob a luz do escritório. Cada gesto seu era calculado, preciso, como se estivesse sempre em uma reunião de negócios, mesmo nas conversas mais pessoais.
Ele se sentou na poltrona de couro diante da mesa de Alerrandro, cruzando as pernas com rigidez e entrelaçando os dedos com força. Seus olhos não desgrudavam do jovem à sua frente, que ajeitava os óculos com um gesto contido, mas revelador de incômodo.
— Você não está feliz com esse contrato... não é mesmo? — disse Marcus, a voz grave, pausada, como quem já conhecia a resposta. Seus dedos se entrelaçaram com mais força, os nós das mãos ficando brancos. — Diga-me, Alê... você sabe que seu pai era um grande amigo meu. É por isso que estou aqui.
Alerrandro ergueu os olhos, finalmente encarando o homem com firmeza. Sua expressão era fria, mas os olhos denunciavam o turbilhão por trás da fachada.
— Por quê?... Por que está aqui exatamente? — perguntou, a voz baixa, mas cortante.
Marcus se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, como se quisesse diminuir a distância entre eles, ou talvez aumentar a pressão.
— Você sabe muito bem. — Sua voz agora era mais dura. — Você assinou um contrato de cinco anos com a minha filha. E não é apenas um contrato, Alerrandro. É um casamento. Você e Lorena são casados. Ela pertence a você, e você pertence a ela.
Alerrandro soltou um suspiro pesado e largou a caneta sobre a mesa com um estalo seco. Seu semblante endureceu, os olhos se estreitaram.
— Não é bem assim, Sr. Marcus. — disse, a voz ganhando volume. — Isso é apenas um contrato! Nada mais. Não há amor, não há aliança. Nós apenas assinamos um papel.
— Baixe o tom de voz, rapaz! — retrucou Marcus, levantando-se de súbito. Sua postura imponente preencheu a sala, e sua expressão endureceu como pedra. — Não vou admitir que você trate a Lorena mal!
Alerrandro também se levantou, mas manteve a compostura. Seus ombros estavam retos, o maxilar travado.
— Sr. Marcus... Eu nunca tratei a Lorena mal. Nunca levantei a voz com ela, nunca a desrespeitei. Mas também nunca prometi amor. Isso foi um acordo. Um jogo de interesses. E o senhor sabe disso.
Marcus se aproximou da mesa, apoiando as mãos sobre a superfície de madeira polida. Seu olhar era de decepção, mas também de ameaça velada.
— Ah, não? — murmurou. — Então me diga: qual foi o dia em que você a tratou como sua esposa? Quando foi além de um beijo protocolar? Você acha que isso é suficiente? Acha que pode brincar com a dignidade da minha filha?
Alerrandro desviou o olhar por um breve instante, como se algo o tivesse atingido. Pensou em Milena. No sorriso dela ao acordar. No perfume diferente. Na dúvida que crescia dentro dele.
— Isso é apenas um contrato, Sr. Marcus — repetiu, agora mais calmo, mas com firmeza. — Eu não tenho nada com Lorena. Nunca tive. E o senhor sabe disso. Não me peça para fingir o que não existe. No dia que assinamos o contrato, eu havia dito ao senhor... dito a Lorena... que não iria significar mais que isso.
O silêncio que se seguiu foi denso, quase palpável. Sr. Marcus o encarou por longos segundos, os olhos estreitos, como se tentasse medir até onde Alerrandro estava disposto a ir.
E então, com um suspiro contido, ele se afastou da mesa, ajeitou o paletó e disse com voz baixa, mas carregada de significado:
— Pelo bem de todos, espero que você saiba o que está fazendo.
Ele virou-se e saiu da sala, deixando a porta entreaberta e um rastro de tensão no ar. Alerrandro permaneceu imóvel por alguns segundos, os olhos fixos na porta, o coração acelerado. Algo estava prestes a mudar, e ele sabia que não poderia mais ignorar.
Alerrandro afundou-se novamente na cadeira de couro, soltando um longo suspiro enquanto passava as mãos pelos cabelos, tentando dissipar o peso da conversa anterior. Seus dedos deslizaram pela nuca, massageando levemente a tensão acumulada. O silêncio da sala era cortado apenas pelo tique-taque do relógio na parede e o zumbido suave do ar-condicionado.
Os minutos se arrastaram, e ele já começava a recuperar o controle da respiração, quando uma batida seca soou na porta.
— Pode entrar — disse, sem desviar os olhos do celular, onde tocava freneticamente na tela, verificando notificações e e-mails pendentes.
A porta se abriu com um clique suave, e uma silhueta feminina entrou com passos decididos. O som dos saltos ecoou pelo piso de madeira polida.
— Alerrandro... — murmurou a mulher, com um tom doce e insinuante, enquanto fechava a porta atrás de si com um gesto lento e calculado. — Você não apareceu ontem à noite... então resolvi te fazer uma surpresa.
Alerrandro ergueu os olhos, e sua expressão mudou instantaneamente. O maxilar se contraiu, e os dedos pararam de se mover sobre a tela. Ele se endireitou na cadeira, os olhos estreitando-se ao reconhecer a visitante.
— Verônica! — exclamou, com a voz carregada de irritação. — Que droga você está fazendo aqui?
Ela sorriu, como se a reação dele fosse apenas parte de um jogo que ela já conhecia bem. Usava um vestido justo, vermelho escuro, que contrastava com o ambiente sóbrio do escritório. Os cabelos castanhos caíam em ondas sobre os ombros, e seus olhos brilhavam com malícia.
— Não finja que não gostou... — disse, caminhando até a mesa com passos lentos e provocantes. Sem cerimônia, afastou alguns papéis e a caneta de Alerrandro com a ponta dos dedos, empurrando-os para o lado como se fossem meros obstáculos. Em seguida, sentou-se sobre a borda da mesa, cruzando as pernas com elegância, mas também com desafio.
Alerrandro se levantou de imediato, dando um passo para trás, como se a presença dela queimasse.
— Verônica, isso aqui é o meu trabalho. Você não pode simplesmente aparecer assim, invadir meu espaço como se...
— Como se o quê?... — Verônica murmurou, mas sua voz cresceu em intensidade, carregada de frustração e desejo. — Você mesmo disse que essa merda não passa de um contrato! — Seus olhos ardiam, e ela se aproximou com passos firmes, o salto ecoando no piso. — É pedir muito uma noite com você?
Alerrandro se virou com rapidez, os olhos arregalados, o rosto tenso. A mandíbula travada revelava o esforço que fazia para manter o controle. Ele ergueu a mão, como se quisesse conter o avanço dela, mas sem tocar.
— Verônica... — disse, com a voz firme, mas carregada de exaustão. — Me escuta. Pode até ser um contrato... Pode até não haver amor. Mas diante dele, eu prometi respeito.
Ela parou, a poucos passos dele, os olhos fixos nos dele. O silêncio entre os dois era cortante. Verônica respirou fundo, tentando conter a onda de emoções que a invadia. Seus ombros se erguiam e abaixavam com a respiração acelerada, e por um instante sua expressão mudou ainda mais.
— Tem certeza?...