Durante aqueles dias, Matheus continuou visitando Abigail. O ritual se repetia sempre em silêncio: passos firmes pelos corredores, o tilintar distante de instrumentos de metal vindos da enfermaria, o aroma de álcool hospitalar impregnando o ar. Mas, assim que ele cruzava a porta do quarto, a atmosfera mudava. O ambiente, antes frio e impessoal, parecia se aquecer com a presença dele. Cada encontro era uma mistura de risos e lembranças, intercalados com momentos em que o silêncio se tornava quase confortável — pausas que Abigail aproveitava para absorver a sensação de normalidade que ele trazia.
No terceiro dia de visita, Matheus entrou com um sorriso mais largo do que o habitual, como se tivesse guardado uma história especial apenas para aquele instante.
— Eu lembro de quando você me contou que o Sérgio ficou morrendo de ciúmes de mim, antes mesmo de descobrir que eu era gay — disse, cruzando as pernas e se acomodando ao lado da cama dela. O tom brincalhão carregava uma intenção clara