A casa estava estranhamente calma na véspera da partida. Não havia malas no corredor nem caixas espalhadas — Marcos tinha cuidado de tudo com uma precisão quase militar, mantendo cada objeto no lugar, como se a ordem pudesse conter o caos que pairava no ar. Abigail percorria os cômodos com passos lentos, o chão frio sob os pés descalços, tentando memorizar cada canto, cada cheiro, cada detalhe do lugar que estava prestes a deixar. O aroma de café ainda persistia na cozinha, misturado com o perfume de livros antigos na estante da sala. Cada pequeno sinal de normalidade do dia a dia parecia carregado de nostalgia, como se o tempo estivesse tentando arrancar dela a memória da casa antes de ela conseguir guardá-la por completo.
No fim da tarde, Luíza bateu suavemente na porta do quarto de Abigail.
— Posso? — perguntou, a voz baixa, hesitante.
— Pode. — Abigail permaneceu sentada na cama, abraçada aos joelhos, os olhos fixos na mala aberta aos pés da cama, ainda quase vazia. A falta de mov