O fim da tarde trouxe um silêncio pesado para dentro da casa. A luz alaranjada atravessava as janelas e desenhava sombras longas pelo corredor quando Marcos bateu discretamente à porta do quarto de Abigail. O som foi tão suave que ela quase não ouviu. Estava com os olhos fixos em uma folha de papel diante de si, mas não lia nada; as palavras embaralhavam-se e se tornavam apenas manchas cinzentas.
— Posso entrar? — perguntou ele, a voz baixa.
— Pode.
Ela estava sentada no chão, as costas apoiadas na lateral da cama, os joelhos dobrados e os pés descalços apoiados no tapete frio. Ao redor, livros e papéis espalhados formavam um caos mudo — uma tentativa fracassada de distração. Pareciam escudos frágeis contra o que viria. O quarto tinha aquele cheiro leve de poeira misturado ao perfume suave das flores secas num vaso esquecido na estante. Tudo parecia parado, suspenso, como se o mundo inteiro prendesse a respiração.
Marcos entrou, fechou a porta com cuidado e ficou em pé por um instante