A madrugada avançava lentamente, como se o tempo tivesse se estendido de propósito para obrigar cada um naquela casa a enfrentar seus próprios pensamentos. Marcos permanecia sentado à mesa da cozinha, encarando o bilhete eletrônico de confirmação das passagens. A tela azulada refletia em seu rosto, ressaltando as olheiras e a rigidez de suas feições. A decisão já estava tomada — ou pelo menos, era isso que ele tentava repetir a si mesmo.
Do corredor, Luiza observava em silêncio. Os braços cruzados, os cabelos ainda úmidos, os olhos cansados. Entre eles, havia um muro invisível erguido após as últimas palavras.
— Você não dormiu — disse ela, a voz baixa, cansada.
— Não consigo — respondeu Marcos, sem tirar os olhos da tela.
Luiza deu alguns passos, aproximando-se da mesa.
— Eu também não.
Ele suspirou, fechando o notebook com um estalo seco.
— Eu não posso simplesmente assistir, Luiza. O Sérgio destruiu a confiança da minha filha, deixou-a sozinha… e agora há uma criança envolvida.
— E